21/01/2025
O silêncio do look da primeira-dama que falou mais alto do que o presidente dos Estados Unidos
O modelito 'fúnebre-opressor' da ex-modelo eslovena e pela segunda vez, primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, roubou a cena na cerimônia de posse do marido Donald Trump, que volta a comandar a maior potência mundial, radicalizando contra a humanidade, quando decreta que os Estados Unidos só reconhecerão, daqui pra frente, dois gêneros: masculino e feminino.
Um decreto que assassina com todas as letras o que a humanidade diversa conquistou com um simples objetivo: ser feliz.
O look usado pela primeira-dama revelou uma mulher de olhos fechados para as mudanças que estão por vir. Ou para a m...que está por vir, que vão além dos efeitos comportamentais, entrando pelas disputas territoriais.
O Blog repercute aqui, posicionamentos de especialistas no assunto, como o jornalista potiguar Rener Oliveira, que conquistou o respeito no restrito mundinho da moda brasileiro depois que se instalou de vez em São Paulo, onde já atuava na plataforma de criativos Nordestesse.
Também repercute o trecho de uma reportagem do ELA/O Globo, que ouviu outros profissionais como o especialista em branding e marketing de moda, Fabio Monnerat.
A seguir, o texto opinativo de Rener, que fala sobre o 'silêncio das roupas que falam', e critica o uso indiscriminado do nome de Deus. "Tadinho Dele".
Tão vazia quanto os nomes que carregam sua atual versão nas redes sociais, a moda segue como uma ferramenta para que possamos entender, não agora, mas futuramente, o contexto social e político pelo qual estamos passando.
Ao longo da história, ela tem sido utilizada como um espelho das estruturas de poder, refletindo não apenas tendências estéticas, mas também agendas ideológicas. Foi o que vimos ontem em Washington, D.C., durante a posse de Donald Trump como o 47° presidente dos EUA.
Com isso, Melania Trump assume pela segunda vez seu posto de primeira-dama. Na ocasião, quase fúnebre, um presságio dos novos tempos, Melania surgiu com um terno sisudo de corte reto, rígido, arrematado por um chapéu que cobria seus olhos, impossibilitando-a de enxergar uma nação inteira à sua frente - com todas as suas diferenças e diversidade. A escolha da vestimenta reflete uma mensagem de distanciamento, materializando a imagem de uma figura inatingível e austera.
A roupa fala. E fala alto.
Se você puxar na memória, em 2020, a bordo de um Alexander McQueen, durante a Convenção do Partido Republicano, em seu look, Melania trouxe um ar de autoridade, e muitos o compararam com as antigas fardas da União Soviética. O perfil @Diet_Prada compartilhou um vídeo que assemelha a roupa aos uniformes de ditadores, como Hitler e Mussolini, reforçando como a moda pode ser utilizada para consolidar uma imagem de domínio e controle.
O mesmo perfil comparou a filha, Ivanka Trump, com as vestes das personagens da distopia The Handmaid's Tale, com o verde profundo e opaco característico usado pelas "esposas".
Na série, essas mulheres são submetidas a um cotidiano pautado por regras rígidas, ocupando uma posição de aparente privilégio, mas ainda assim limitadas por um sistema opressor.
Mesmo que as novas formas de comunicação digam que moda é apenas abrir milhões de caixas com conteúdos inúteis, ela nos proporciona um leque de observação, permitindo uma análise das linhas subliminares e crítica sobre os discursos implícitos na indumentária.
Cabe a nós não ficarmos presos nessas caixas da estupidez enquanto o mundo segue para lugares cada vez mais duvidosos em nome de Deus.
Tadinho Dele.
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No portal do caderno ELA, do Globo, a reportagem explica porque Melania Trump escolheu para a posse de Donald Trump, um vestido sóbrio chamado por muitos de "outfit funeral".
O que está por trás do look?
O especialista em branding e marketing de moda, Fabio Monnerat, comentou sobre a escolha da primeira-dama, destacando que Melania sempre transmite uma mensagem através do que veste. “Melania Trump tem uma importância dentro da moda americana por sua capacidade de atrair atenção. Ela sempre foi polêmica, e na posse de 2017, por exemplo, ela usou um conjunto azul claro de Ralph Lauren, uma referência à Jackie Kennedy. Já nesse novo visual, o uso de cores escuras parece apontar para um distanciamento, uma aristocracia americana”, explicou Monnerat.
Ele também observou que, ao contrário de Michelle Obama, que se destacou por apostar em novos designers e criar uma imagem inclusiva, Melania parece se afastar de qualquer tentativa de aproximação com o público. “Ela constrói uma imagem muito mais voltada para as elites, para o poder. A escolha de um look com chapéu que tampa parte de seu rosto também pode ser vista como uma forma de afastamento da comunicação direta. O visual não transmite emoção, apenas uma mensagem de distanciamento e autoridade”, afirmou o especialista.
Além disso, Monnerat chamou atenção para o fato de Melania não ser uma figura acessível ao público, ao contrário de outras primeiras-damas, que procuravam se conectar com a população através de suas escolhas de moda. "Melania Trump, ao contrário de Michelle Obama, não busca representar o povo. Ela cria uma imagem que se distancia da figura popular, se alinhando mais com uma ideia de poder e exclusividade", analisa.
Já a pesquisadora em moda Paula Acioli reforça que Melania tem um estilo consistente, sofisticado e calculado, profundamente enraizado em sua experiência como modelo e seu conhecimento da indústria da moda. Ela destaca a relação simbólica entre as escolhas de Melania e a função de primeira-dama: “Ao optar por designers americanos, como Adam Lippes e Eric Javits, Melania não só valoriza o talento local, mas também reafirma o poder da nação por meio da moda.”
Acioli também questiona a percepção de distanciamento atribuída a Melania: “Não vejo seu estilo como desconexo da população. Como primeira-dama, ela precisa adotar um vestuário coerente com a representatividade do cargo. Assim como figuras como Kate Middleton ou Brigitte Macron, suas escolhas são orientadas por protocolos. A personalidade e naturalidade de cada pessoa é que determinam o tom de proximidade ou distanciamento”, defende.
Acioli interpreta a mudança dos looks de posse como reflexos de uma maior consciência sobre as demandas do cargo: “Ela sabe interpretar os sinais do tempo e, mesmo mantendo sua sobriedade e discrição, pode se adaptar às novas demandas de engajamento e interação”, conclui.