30/07/2024
Governadora Fátima assina artigo na Folha sobre importância da isonomia na renegociação das dívidas dos Estados com a União
Presidente do Consórcio Nordeste, que engloba todos os estados da região, a governadora Fátima Bezerra assina artigo na edição impressa da Folha de S. Paulo desta terça-feira (30), sobre a importância da isonomia na renegociação das dívidas dos Estados com a União.
Fátima abordou questões cruciais sobre a reconstrução do país e a necessidade de uma renegociação justa das dívidas dos Estados com a União.
Também ressaltou que qualquer solução para o endividamento dos Estados deve levar em conta as desigualdades regionais e socioeconômicas. Ela destaca ainda que quatro Estados com maior participação na economia nacional são responsáveis por 90% da dívida com a União, enquanto Estados com capacidade de investimento limitada devem muito pouco.
O argumento aponta que os empréstimos e garantias da União, que alavancaram as economias dos Estados mais ricos, não foram igualmente acessíveis às regiões Norte e Nordeste, perpetuando desigualdades históricas.
O artigo também critica as medidas eleitoreiras do governo anterior, que reduziram a arrecadação de ICMS em R$ 124 bilhões por ano, afetando severamente os orçamentos estaduais. Bezerra defende a criação de um fundo de equalização, com uma fonte segura de recursos, para garantir que a distribuição dos recursos promova a redução das desigualdades regionais.
O artigo termina com um apelo à cooperação federativa e ao diálogo entre o governo federal, estados e municípios para a construção de uma solução justa e equitativa para todos.
Confira o artigo na íntegra:
Renegociação das dívidas dos Estados com a União e o imperativo da isonomia
Fátima Bezerra – Presidenta do Consórcio Nordeste e Governadora do Estado do Rio Grande do Norte
O tema da renegociação das dívidas com a União volta ao debate nesse momento em que o Governo Federal e o Congresso Nacional, através do diálogo com os Estados, buscam uma solução para o endividamento e consequentesdificuldades desses. Dificuldades essas agravadas pelas medidas eleitoreiras do governo anterior, que alterou o regime de tributação dos combustíveis, energia e telecomunicações sem qualquer diálogo ou compensação para Estados e Municípios, promovendo reduções em seus orçamentos e reduzindo em R$ 124 bilhões de reais por ano a arrecadação de ICMS.
Para que essa solução seja justa, ela não pode ignorar as desigualdades existentes entre os Estados, do ponto de vista dos diferentes níveis de endividamento com a União, e, principalmente, das desigualdades regionais e socioeconômicas conhecidas por todos. Os quatro Estados com maior participação na economia nacional respondem por 90% de toda a dívida com a União, enquanto outras unidades da federação que sofrem com limitada capacidade de investimento e dificuldades com o custeio de suas obrigações básicas devem muito pouco.
Não é por mera coincidência que, na liderança do ranking dos Estados mais endividados, figuram as maiores economias estaduais. Foram exatamente os empréstimos e garantias da União, componentes dessas dívidas, que permitiram alavancar as economias desses Estados, tratamento esse que não foi estendido às demais regiões do Brasil, especialmente o Nordeste e Norte. Não é erradoque os recursos públicos sejam destinados para garantir o crescimento da economia e melhoria das condições de vida do povo. Mas sua distribuição precisa ser mais justa, menos concentradora e excludente, e não beneficiarapenas as economias mais desenvolvidas como historicamente foi feito no Brasil.
Qualquer proposta que não considere essa realidade, edeixe de contribuir para alterá-la, insistindo em tratar os desiguais de maneira igual, incorrerá em dois erros: um econômico, por deixar de valer-se dos potenciais subaproveitados de crescimento do país, como da região Nordeste; e um ético-político, por afastar o princípioconstitucional fundamental da erradicação das desigualdades. Assim, a proposta em discussão do fundo de equalização é uma sinalização positiva, porém, carece de um debate mais aprofundado quanto a seus detalhes.
É preciso garantir que o fundo tenha fonte segura de recursos, para que não tenhamos apenas uma promessa vazia de ajuda. Aqui, a ideia de direcionar para o fundo uma parte do que será economizado com o não pagamentode juros à União é uma boa solução. Ponto ainda mais relevante e crucial é que a distribuição dos recursos do fundo seja feita a partir de parâmetros que reduzam as desigualdades regionais. Defendemos que seja adotado o critério já consagrado do FPE, que garante o equilíbrio socioeconômico entre os Estados e permite uma distribuição justa dos recursos.
Sabedores de que este é um debate politicamente tão sensível quanto necessário, acreditamos que o país precisa dar esse passo. A Resolução aprovada pelo Conselho da Federação sobre o tema é um bom guia. Naquele espaço, pautados pelo diálogo e pela cooperação federativa, representantes do Governo Federal, dos Estados e dos Municípios trabalharam em conjunto e acordaram premissas para a renegociação das dívidas que levam em conta as desigualdades regionais e as necessidades e peculiaridades de cada ente federado, inclusive a situação excepcional do Rio Grande do Sul.
Entendemos que a reconstrução de nosso país passa também pela capacidade de nos unirmos na direção dasuperação das nossas desigualdades sociais e regionais e da garantia de direitos de cidadania ao conjunto do povo brasileiro. Para tanto, é preciso não esquecer do imperativo da isonomia, que passa por não tratar os desiguais de maneira igual, e dar condições para que todos os Estados tenham capacidade de investimento e fortalecimento de suas políticas públicas. Confiamos que o diálogo prospere e nossos passos caminham nessa direção.