11/10/2023
Gratidão? - Brasileiros vão à Terra Santa percorrer os ‘caminhos de Deus’ mas não são capazes de reconhecer o gesto do governo que os tirou do centro de uma guerra
Por Thaisa Galvão
Quando o presidente da República era Jair, ele próprio costumava dizer que cabia ao chefe da Nação comandar as Forças Armadas.
Para ele, e para os seus seguidores e eleitores, o presidente era o comandante do Exército, da Marinha, da Aeronáutica.
Portanto, nada acontecia em seus quartéis sem a determinação do Palácio do Planalto.
Agora, o sentimento de ingratidão reina entre os seguidores de Jair que estavam em Israel e foram resgatados pelo governo brasileiro. Pelo governo do presidente Lula.
Repatriados chegam ao Brasil em aeronave da Força Aérea Brasileira e agradecem às Forças Armadas. Agradecem até ao prefeito de Sorocaba, como uma criatura sem noção, que foi a Israel seguir os caminhos de Deus na Terra Santa, mas a grandeza passou longe do seu coração.
Voltou da Terra Santa menor do que foi.
Agradecer a quem de direito, é no mínimo um gesto de grandeza.
Reconhecer que o avião da Força Aérea só foi buscar brasileiros em Israel porque o presidente Lula determinou, não transforma bolsonaristas em eleitores do PT a partir de agora. Torna apenas pessoas "do bem", como eles costumam pregar. Capazes de reconhecer o gesto do governo brasileiro que não mediu esforços para mandar buscar os turistas bolsonaristas em Israel. Em tempo recorde, vale salientar.
Eis a declaração feia, pequena, mesquinha e ingrata da bolsonarista de Sorocaba, repetida por turistas de todo o Brasil, inclusive do Rio Grande do Norte, de Natal.
Agradecer engradece.
Reconhecer fortalece.
Alimentar o sentimento de ingratidão torna menores quem achou que ir à Terra Santa peregrinar poderia transformá-los nas tais 'pessoas de bem' tão propagadas nesses tempos de nenhuma empatia e muita intolerância.
Enganar a quem? A Deus?
Que merecimento teriam essas pessoas?
Sem a ordem do presidente Lula, os brasileiros em Israel continuariam em Israel, tentando, a duras penas e muito dinheiro, encontrar voos para outros países.
Agradecer ao governo brasileiro num gesto de grandeza não obriga nenhum turista da Terra Santa a votar no PT nas próximas eleições.
Gratidão é isso. Saber agradecer indistintamente. Não é postar uma bela imagem nas redes sociais e escrever: GRATIDÃO. Longe disso.
Seja eleitor ou adversário odiento do presidente Lula, sem a ordem dele não tinha FAB nem prefeito de Sorocaba repatriando brasileiros assustados no centro de uma guerra.
E sem ódio ideológico no coração, vale reconhecer que o governo Lula foi agil nas ações para 'cuidar' do povo brasileiro que passeava pelo país em guerra.
E a comparação pode ser feita com atitudes bem recentes do governo brasileiro.
O presidente era Jair quando estourou a pandemia no mundo. Brasileiros estavam por todas as partes, e não foram socorridos de imediato pelas Forças Armadas.
Sem a ordem de Jair Bolsonaro, a FAB não iria buscar ninguém, como governos de vários países fizeram com seus patriotas radicados na China, onde a pandemia começou.
Vendo que a China negociava com governos de outros países para que aeronaves oficiais entrassem no país para repatriar pessoas, um grupo de brasileiros sem assistência do governo Bolsonaro teve que escrever uma carta ao governo do Brasil, e gravar a carta em vídeo, com a cara de cada um deles, vivendo na China e implorando para voltar ao país, diante de uma pandemia que estava só começando e ninguém sabia onde iria parar.
Eis a carta gravada por cidadãos brasileiros humilhados pelo governo Bolsonaro. E sejamos corretos: bem diferente do que está acontecendo agora. E não precisa ser do PT para reconhecer.
A carta dos humilhados brasileiros vivendo em Wuhan, epicentro do coronavírus, foi encaminhada ao então presidente Bolsonaro e ao então ministro Ernesto Araújo, para que eles "seguissem exemplo de outros países".
Jair mostrou resistência à operação de retirada dos brasileiros em Wuhan, e só cedeu depois da exposição da carta. Ficou vergonhoso pra ele.
Uma nota divulgada pelo Planalto dizia que “Assim que chegarem ao Brasil, eles deverão ser submetidos a quarentena, de acordo com procedimentos internacionais, sob a orientação do Ministério da Saúde”.
A nota dizia ainda que o plano de voo para repatriar brasileiros na China contaria com o fretamento de aeronaves.
Bolsonaro achava caro fretar aeronaves para trazer os brasileiros radicados na China.
Lula não pensou em dificuldades. A ordem foi tirar os brasileiros da guerra.
Além de achar caro cuidar de brasileiros, Jair Bolsonaro não teve a menor empatia com uma família brasileira que se contaminou no início da pandemia. E em entrevista que pode ser conferida letra por letra nos canais sérios de busca - não vale nos zap zap de fake news da época - Bolsonaro desdenhou dos brasileiros doentes. Eram poucos, e por serem poucos, pouco importava pra ele.
"Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando. Não seria oportuno retirar de lá, com todo respeito, pelo contrário. Agora, não vamos colocar em risco nós aqui por uma família apenas", disse Bolsonaro em entrevista a jornalistas no Palácio da Alvorada na manhã de 31 de janeiro de 2020, após desembarcar de uma viagem à Índia.
Para Bolsonaro...era "apenas uma família"...
Tipo assim: pode morrer pra lá e não venha trazer a doença para o Brasil.
Pois bem...
Estão aí dois exemplos claros, e não precisa se filiar ao PT nem deixar de ser bolsonarista para reconhecer.
Quem não for capaz, talvez lá na frente possa entender por que passou por uma situação que não estava nos planos.
Porque os planos dos terrenos não são os planos de Deus, e nos planos Dele, estão sempre os merecimentos de todos nós.
Quem sabe está aí a explicação para tanto...