15/03/2022
Memória: Rubens Lemos e os 35 anos de posse do governador Geraldo Melo
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Quem conhece a história política brasileira sabe que até alguns anos, governador eleito em 15 de novembro, em um turno só, tomava posse no dia 15 de março.
E este 15 de março marca, 9 dias depois de sua morte, a posse de Geraldo Melo como governador do Rio Grande do Norte.
E como jornalismo não pode deixar para trás a memória, o Blog publica texto do jornalista Rubens Lemos sobre a campanha, a posse e o governo de Geraldo Melo.

HÁ 35 ANOS GERALDO MELO TOMAVA POSSE
Rubens Lemos Filho
Jornalista
Nesta terça-feira, 15 de março de 2022, completam-se 35 anos da posse do governador Geraldo Melo no Rio Grande do Norte. Eleito pelo PMDB em 1986, de virada, com maioria de 14.072 votos(0,5%) sobre o deputado federal do PFL, João Faustino(falecido), protagonizando uma das mais acirradas campanhas eleitorais da história.
Geraldo Melo, a exemplo do seu correligionário Aluizio Alves, revertia os ataques adversários transformando-os em marketing positivo. Pequenino, foi chamado de Tamborete, de forma jocosa. Passou a fazer discursos em cima de tamboretes que viraram acessórios dos seus eleitores, pendurados em janelas, expostos em calçadas, colados em roupas quando feito miniaturas.
Inovar e surpreender marcaram a trajetória de Geraldo Melo candidato. Seis meses antes da eleição, convocou uma imprensa aturdida e afável ao poder vigente para comunicar que aceitava o resultado do Ibope, apontando-lhe fragorosa derrota naquele momento. Mas que exigiria igual comportamento dos oponentes e venceria a eleição. Viraria o jogo.
A diferença, que superava os 30 pontos, foi caindo ao som das melodias contagiantes do Tamborete. “Sopra o vento, deixe esse vento soprar, esse vento traz Geraldo e a nossa sorte vai mudar”. O Catavento, símbolo de novos tempos(hoje cata-vento na esdrúxula reforma ortográfica) incorporava-se ao ritual político potiguar.
Orador brilhante, conhecedor profundo da economia do Estado, desde os tempos de jovem auxiliar de Aluizio Alves no Governo do Estado, Geraldo Melo incorporou o sentimento oposicionista e cativou o eleitor, coligado apenas com PCB e PC do B, saídos da clandestinidade um ano antes, contra uma máquina de mais de 130 prefeitos e a força do ex-governador José Agripino, no auge de sua liderança. Em 1986, Agripino seria eleito senador pela primeira vez. A segunda vaga ficou com Lavoisier Maia.
A última pesquisa Ibope, dia 14 de novembro, véspera da votação, apontava João com 48% e Geraldo com 47%. Empate técnico rigoroso. A apuração começou com João Faustino liderando nos pequenos municípios. Manual, a contagem mobilizou os dois lados, tensos e apostando em cada candidato.
No quarto dia, uma sexta-feira, Geraldo Melo ultrapassava João Faustino e impunha os 14.072 votos que o tornaram o primeiro governador de um partido de oposição desde Aluizio Alves em 1960, pois o Monsenhor Walfredo Gurgel sucedeu seu aliado Aluizio em 1965. O povo foi às ruas, Geraldo discursou nas escadas da Tribuna do Norte/Rádio Cabugi e a passeata se estendeu ao amanhecer de um domingo ensolarado de democracia.
O Governo, quatro anos passados com o gabinete de Geraldo Melo no neoclássico Palácio Potengi, empregou feroz política de segurança pública equipando a polícia e criando tropas de operações especiais, liquidou ou prendeu quadrilhas vindas do Sudeste e Norte (assaltos ao BCN, Banorte, assalto/sequestro BNB de Assu), duplicou a Ponte de Igapó, construiu hospitais regionais, ativou o Programa do Leite, o Programa Peixe para o Povo e investiu alto na eletrificação rural, dentre outras obras.
Travou embates com sindicatos, em especial com o dos professores. Relembrar sua posse, três décadas e meia passadas, é dever histórico. E jornalismo não se faz sem memória.


