17/02/2022
Tragédias anunciadas e pouca solução depois que as chuvas param na região serrana do Rio de Janeiro
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Em entrevista ao G1, o professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, Marcelo Motta disse que as autoridades sabem o que precisa ser feito, mas falta vontade política.
"A gente deveria ter tomado atitudes muito severas dado a fragilidade desse sítios. São sítios urbanos muito frágeis e com um crescimento populacional também muito agudo. A questão é que parou de chover e esses eventos extremos, eles têm recorrência de dez anos, o último foi em 2013, 2011 antes. Nesse intervalo, parece que se esquece dessa política pública", comentou.
"É o que eu chamo de amnésia do céu azul. O céu fica azul, esquece de se fazer a política que é necessária. E com isso vai sucateamento de defesa civil, sucateamento das políticas, né, de intervenção das obras e a gente tem o quadro que tem", concluiu o professor.
Para o professor do departamento de geografia da UFRJ, Antônio Guerra, não faltam pessoas qualificadas para reduzir os danos que essas chuvas podem causar. Segundo ele, falta vontade política.
"Existem recursos humanos, tanto nas prefeituras quanto nas universidades, o que falta é vontade política para que a prefeitura realmente proceda de uma forma integrada. Mesmo que você não acabe totalmente com o problema, pelo menos você minimiza os seus efeitos. Que você não tenha mortes", comentou Guerra.
CPI fez recomendações
Na opinião do deputado Luiz Paulo (Cidadania), presidente da CPI da Alerj que investigou a atuação dos órgãos públicos diante da tragédia de 2011, o trabalho de recuperação dessas cidades é urgente. Contudo, segundo ele, é fundamental garantir um investimento continuo para que o problema não volte a acontecer ano após ano.
"É necessário construir habitações de interesse social, fazer obras de contenção de encosta, reflorestamento, tirar pessoas das margens do rios, de terrenos instáveis, que moram em talvegues. Isso tem que ser ano após ano, em uma ação continuada, que envolva os executivos do estado, das prefeituras e da União. Se não for assim vai chegar mais um evento extremo na Região Serrana e a população é que vai sofrer", comentou Luiz Paulo.
Em uma das poucas ações com caráter preventivo, em janeiro de 2021, o Governo do Rio de Janeiro lançou o programa Governo Presente na Região Serrana.
Durante três dias, o governador Claudio Castro (PSC) trabalhou na região, como uma forma de marcar os 10 anos da tragédia de 2011. Castro anunciou, ao lado dos secretários, investimentos de mais de R$ 500 milhões, que deveriam ir para a prevenção de acidentes ao bem-estar da população.
O governador prometeu investir R$ 135 milhões, ao longo de 2021, em obras de recuperação de encostas em Nova Friburgo e em Teresópolis. Na ocasião, o Governo informou que aplicaria mais R$ 220 milhões em serviços de desassoreamento e canalização de rios, além da urbanização de margens.
Nesta quarta-feira (16), durante coletiva de imprensa em Petrópolis, o governador confirmou que até o momento foi gasto R$ 200 milhões com a limpeza de rios e R$ 80 milhões na contenção de encostas. Castro também disse que o trabalho do governo tem que ser voltado para a prevenção.
"Somente no ano passado, nós gastamos mais de R$ 200 milhões limpando rios em 31 municípios. Gastamos R$ 80 milhões em contenção de encostas. O estado é muito grande e temos um passivo enorme. Não se resolve tudo em 4 anos. É necessário que se faça o preventivo, mas leva tempo. Não dá pra fazer tudo de uma vez só", explicou Claudio Castro.
Questionada pela reportagem, o Governo do Estado do Rio de Janeiro não informou sobre o andamento das obras que ainda não foram concluídas.
Fontes: G1/TV Globo