04/02/2021
Polêmica na Academia: escritor David Leite disputa cadeira de imortal sem aval de Diógenes da Cunha Lima, há 37 anos na presidência da casa literária do RN
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A polêmica do momento é literária.
Candidato à vaga da cadeira número 8 da Academia Norte-rio-grandense de Letras, o professor e escritor David de Medeiros Leite se deparou com o que ele jamais imaginou: um não, limpo e seco do presidente da Academia por ininterruptos 37 anos, advogado Diógenes da Cunha Lima.
Ao apresentar seu nome ao presidente, David ouviu de Diógenes que não era a vez dele, que a Academia precisava de um nome nacional e que o nome será o do jornalista potiguar Gaudêncio Torquato, consultor político do ex-presidente da República, Michel Temer, que hoje, (Temer), atua como conselheiro do presidente Jair Bolsonaro.
David tem posições declaradamente esquerdistas. Daí a polêmica que mais que literária, passa a ser política, de poder, fugindo totalmente do sentido da Academia de Letras.
Imortais da ANLR confirmaram ao Blog que receberam ligação do presidente Diógenes, orientando o voto em Gaudêncio.
Diógenes, presidente há 37 anos, ultrapassou a vitaliciedade de quase 34 anos consecutivos de Austregésilo de Athayde como presidente da Academia Brasileira de Letras, fugindo aos princípios originais da Casa, mas que foi modificada por seus sucessores, hoje se revezando de dois em dois anos, abrindo espaço para todos chegarem à presidência.
David concorre, mesmo anunciado pelo presidente como um sem chance, levantando no meio literário, sem espaço na Academia e com temor de enfrentá-la exatamente para não ser barrado, a questão até então não discutida pelos escritores sem oportunidade, muito menos pela imprensa do Rio Grande do Norte.
O que faz com que os ‘imortais’ da Academia potiguar não vislumbrem a possibilidade de assumir a sua presidência?
No Rio Grande do Norte, os imortais são os seguintes, além do presidente, que ocupa a cadeira 26:
Cláudio Emerenciano (cadeira 01)
Humberto Hermenegildo (02)
Daladier Cunha Lima (03)
Cassiano Arruda Câmara (04)
Manoel Onofre Júnior (05)
João Batista Pinheiro Cabral (06)
Ministro do STJ Luiz Alberto Gurgel de Faria (07)
Roberto Lima (09)
Dácio Galvão, já eleito para a cadeira 10, mas ainda não empossado
Paulo de Tarso Correia de Melo (11)
Clauder Arcanjo (12)
Eulália Duarte Barros (13)
Armando Negreiros (14)
Lívio Oliveira (15)
Advogado Armando Holanda, eleito para a cadeira 16, mas ainda não empossado
Ivan Maciel de Andrade (17)
Padre João Medeiros Filho (18)
Marcelo Alves, eleito para a cadeira 19, mas ainda não empossado
Jarbas Martins (20)
Valério Mesquita (21)
José Mário de Medeiros (22)
Iaperi Araújo (23)
Sônia Fernandes Faustino (24)
Luiz Eduardo Suassuna, eleito para a cadeira 25, mas ainda não empossado
Vicente Serejo (27)
Jurandyr Navarro (28)
Itamar de Souza (29)
Diva Cunha (30)
Leide Câmara (31)
João Batista Machado (32)
Carlos de Miranda Gomes (33)
Juiz federal Ivan Lira de Carvalho (34)
Woden Madruga (35), eleito, mas não empossado
Ministro José Augusto Delgado (36)
Elder Heronildes (37)
Benedito Vasconcelos Mendes (38)
Ministro do STJ Marcelo Navarro Ribeiro Dantas (39)
Geraldo Queiroz (40)
A cadeira da vez é a 8, que ficou vaga com a morte do jornalista e escritor Nelson Patriota, e que tem como patrono, Isabel Gondim.
A Academia segue silenciosa em relação à ocupação secular, em se falando de imortais, do presidente Diógenes, e com 5 eleitos ainda não empossados.
David Medeiros Leite segue candidato, disputando suas obras literárias com os escritos políticos do tão preparado quanto, Gaudêncio Torquato.
Mas, quando se trata de Academia de Letras, se fala de literatura, e o “barrado no baile” escritor David Leite, tem entre as obras publicadas, o mais recente romance “2020”, com prefácio do imortal Humberto Hermenegildo, contracapa do imortal Clauder Arcanjo, orelha do imortal Manoel Onofre Júnior, que rendeu elogios a outra obra de sua autoria, o livro de crônicas “Cartas de Salamanca”.
“Se um estudante me pedisse para indicar-lhe um bom livro de crônicas, uma obra referencial do gênero na literatura potiguar, eu indicaria este, sem nenhuma dúvida. Não digo que seja obra prima, mas é Crônica, (com C maiúsculo) na melhor expressão da palavra”, escreveu Manoel Onofre sobre Cartas de Salamanca.

“Barrado no baile”, que bem poderia ser o título de sua próxima obra, talvez um romance sobre o silêncio que ocupa 37 anos da literatura potiguar, o escritor David Leite, um gentleman no trato com as pessoas, que não merecia tal tratamento, nem o apoio a esse tratamento dos imortais da Academia, também é poeta. “Incerto Caminhar” e “Ruminar” são obras que enriquecem a literatura defendida e para a qual vive o professor, que em vez de barrado no portão da Academia, merecia ser acolhido e colocado na cadeira número 8. Por respeito ao jornalista, escritor, biógrafo, poeta, revisor, tradutor crítico literário e defensor da literatura sem política, sem esquerda nem direita, Nelson Patriota.
A Academia Brasileira de Letras continua sendo criticada e apontada até hoje como um "agrupamento de escritores conformistas e políticos poderosos e vaidosos", e por não ter aberto suas portas para escritores aclamados da literatura brasileira como Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Graciliano Ramos, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Erico Verissimo, Mário Quintana e Paulo Leminski...
Sofre críticas também por ter arrumado cadeiras para políticos como Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, para celebridades como o cirurgião das estrelas Ivo Pitanguy, o inventor Santos Dumont, e até para Assis Chateaubriand, magnata das comunicações no Brasil, mas que não se dedicava à produção literária.
Qualquer semelhança com o belo palacete da rua Mipibu, em Natal, não será mera coincidência.
