08/09/2020
Pároco da Diocese de Caicó e diretor do Colégio Diocesano, Padre Costa divulga Carta Aberta à governadora contra reabertura de escolas
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Pároco da Diocese de Caicó, professor da UFRN e diretor do tradicional Colégio Diocesano Seridoense, Padre Costa escreveu uma ‘Carta Aberta’ à governadora Fátima Bezerra, falando sobre reabertura de escolas.
Na carta ele diz que tem acompanhado “vozes” que falam em nome de escolas privadas, e ressalta que nem todas tem o mesmo pensamento.
Segundo Padre Costa, o Colégio Diocesano tem ‘clareza e consciência’ que a volta às aulas presenciais pode colocar em risco tudo o que vem sendo feito para manter os índices de covid sob controle.
Eis a carta.
Depois do print, com melhor leitura, os pontos apresentados pelo padre.


1- Nem todas as escolas privadas reclamam pelo retorno às aulas presencias. Há escolas
privadas, e o Colégio Diocesano Seridoense de Caicó é uma delas, que têm clareza e consciência de que o retorno às atividades presencias pode colocar em risco o esforço que todos têm feito para manter o COVID-19 sob controle no nosso Estado.
2- A grande maioria das famílias não aceitam e não mandarão seus filhos para a escola.
Assim sendo, as crianças destas famílias terão direito a continuidade do ensino remoto;
3- Com isto, as escolas terão que duplicar a carga horária de seus professores e técnicos
administrativos, para atenderem ao chamado “Ensino Híbrido”, pois as turmas que tiverem
ensino presencial pela manhã, terão obrigatoriamente que ter o ensino remoto à tarde e vice-versa.
4- A grande maioria dos nossos professores já têm dois regimes de trabalho. Muitos são
professores do estado e de município, do estado e particular, de município e particular e de
mais de uma escola particular. Como ficará a vida daqueles professores que se encontram
nessa situação? Parodiando o que diz Jesus em Mateus, 23, 4: “Não coloquemos fardos
pesados e difíceis de suportar nos ombros dos outros, quando nós mesmos não podemos
carregá-los”;
5- Mais do que nunca temos a consciência da importância do professor em sala de aula,
no entanto, diante da preservação do bem maior e sabendo que este é o único meio de nos
mantermos preservados desta pandemia, nossos pais e alunos têm se sentido relativamente
satisfeitos com o trabalho de ensino remoto;
6- Se até o momento nossas crianças estiveram preservadas do COVID19, como não culpar
a escola, caso uma criança que esteja frequentando a escola venha a ser infectada? Tal
probabilidade nos coloca diante de possíveis desdobramentos jurídicos imprevisíveis;
7- É falaciosa a argumentação de que esta ou aquela escola esteja preparada para o início
das aulas presencias tendo em vista o cumprimento de um protocolo de biossegurança;
8- Quem conhece minimamente a criança, sabe perfeitamente que ela não se enquadra
dentro de protocolos. A lógica de um protocolo de biossegurança não atinge a consciência
infantil e dos adolescentes. A criança surpreende sempre! Por isso não se trata de ter ou não
condições financeiras, estruturais, físicas ou sanitárias. Trata-se da compreensão ou não do
mundo infantil e adolescente;
9- Alguns podem argumentar: tudo já voltou a funcionar: comércio, academias, igrejas, etc. A Escola é diferente de tudo isso. Ela é única. Ela não se assemelha a nada daquilo utilizado
como argumento para ser reaberta. Se assim o fosse, nós não precisaríamos de psicólogo,
assistente social, psicopedagogo, inspetor de disciplina e outros profissionais de apoio no
processo ensino-aprendizagem. Querer comparar a escola a outra instituição, de qualquer
natureza, é verdadeiramente não conhecer o que seja uma escola;
10- Apesar dos inúmeros esforços das famílias e das escolas em manterem o ensino remoto, de
certo temos um prejuízo de conteúdo e de dias letivos, mas isso pode ser recuperado o que
não podemos recuperar é a vida. Eu não compreenderei em hipótese alguma que gestores
educacionais coloquem em risco a saúde e a vida de um terço da população do nosso estado
com o pseudo argumento de salvação do ano letivo, até porque temos prejuízo, mas o ano
letivo não está perdido. Ademais, três meses de aulas presenciais não garantem a
recuperação de nenhum prejuízo escolar;
11- Por fim, quero exortar a todos os destinatários referidos no início desta carta a continuarmos
com os mesmos esforços e a darmos continuidade ao ano letivo do modo como estamos
fazendo, até a sua conclusão, suplicando a Deus que ilumine a mente dos cientistas do
mundo inteiro para que descubram logo uma vacina capaz de erradicar ou ao menos
controlar tão cruel pandemia. Rezemos igualmente pelos nossos representantes
educacionais, para que iluminados pela Luz divina possam ter o discernimento em todas as decisões e que não se deixem levar por pressões ou interesses de grupos. Deus nos abençoe a todos!