16/07/2020
Um texto para Acariense e para quem gosta de um texto
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Como eu sou adepta de um texto bem escrito e bem pensado, e sou acariense ‘ausente’ da gema, vou publicar o ‘recebido’ de Heraldo Palmeira, produtor cultural de Acari que atua mesmo em São Paulo, e que escreveu sobre a partida do amigo Jácio Mamede.
Um texto para quem é de Acari e para quem gosta de um bom texto.
DE TÃO LIGEIRO QUE PASSA!
O que estava aqui ontem e anteontem pode não ser de hoje e nem de amanhã. E o que é o amanhã se a gente nem sabe direito o que é hoje, de tão ligeiro que passa? Dizem que faz parte do mistério da vida. Mas a gente também não sabe.
Ah, e como passa ligeiro! Parece que foi ontem que a gente ia para o Jardim de Infância, ali ao lado da Matriz de Nossa Senhora da Guia. A gente nem sabia direito o que significava Nossa Senhora da Guia, mas gostava e pronto. E já entendia que o padre era maioral.
Dizem que a gente ia estudar. Mas, pelo que me lembro, ia mesmo era brincar de ser feliz, com o intervalo da merenda. E a gente dividia o lanche que levava de casa, porque cada casa tinha seus sabores.
A gente passava na porta do Tomáz de Araújo e sabia que um dia entraríamos lá, cheios de orgulho naquele uniforme azul e branco. Quem danado ia saber que entrar lá significava estar crescendo, ficando mais velho, deixando de ser criança? Por isso, eu acho que era melhor ficar assim, nunca sair da infância. Qual é a graça de crescer? Um dia eu ainda vou conversar sobre isso com Deus. Pode acreditar!
Ora, a gente estava só no começo, nem sabia que o tempo passava e que tudo tem fim num dia como outro qualquer. É quando não haverá amanhã. E a gente segue sem saber se é fim ou se é o começo de uma segunda parte.
Dizem que tem segunda parte e que é muito melhor, mas nunca ninguém que foi veio contar. Pelo visto, é melhor deixar para saber na hora. Cada coisa no seu tempo.
Cabra véi, você já foi e por aqui todo mundo ficou achando que era cedo, antes da hora. E não fique tirando onda só porque agora aprendeu a voar. Um dia, nós todos vamos bater asa aí por cima, também.
Não adianta tentar se esconder, nós vamos lhe achar, seu besta! Em qualquer lugar tem acariense ausente. É só gritar o prefixo “Viva Nossa Senhora da Guia”! E não fique se achando só porque já a conheceu pessoalmente. Não esqueça que fui eu quem gravou o hino Dela – morro de medo que Ela não tenha gostado, mas não precisa comentar nada, não. Pode deixar que depois eu mesmo pergunto.
Rapaz, Jesus de Ritinha de Miúdo andou me contando das últimas andanças de vocês pelo Alto Oeste, das conversas até as altas horas da madrugada nos hotéis. Aquilo é um tirador de onda, chamando você de Richard Gere do Sertão pelas suas costas. É um babão!
E ainda fica de arenga com Goga de Gabriel, que prefere lhe chamar de Major das Ribeiras D’Acauã. Outro babão!
Imagine que Andinho de Bulhões até está batendo bem pouquinha palma enquanto fala de você naqueles vídeos dele. Eu fiquei impressionado porque tinha certeza de que ele batia palma para dar ar no fole e poder falar. Veja o que faz a saudade. Aliás, o tom da voz de Andinho foi a tradução da nossa esperança e da nossa tristeza. A gente ficava aguardando os boletins da "TV Bulhões" para saber notícias de você.
Sabe, Jácio, eu preferi escrever porque ninguém pode ver a cara triste de um teclado e nem ouvir o silêncio de uma tela. Esse povo sabido do estrangeiro que inventou esta geringonça pensou em tudo. A coisa melhor do mundo é nem precisar mais de papel. Assim, a gente não molha a alvura dele enquanto escreve dores.
Saudade, seu filho de dona Maria José Mamede! Brincadeirinha muito sem graça essa sua. Vá pros quintos do céu, seu Pitoco de uma figa!
(Heraldo Palmeira)
