22/06/2020
Ex-marido de empresária que virou ré por corrupção, Wassef disse que era amigo e trabalhava para Flávio Rocha
[0] Comentários | Deixe seu comentário.A reportagem do ano passado da revista Época mostrou que o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, nunca foi um advogado famoso e que o nome dele constava em poucos processos judiciais. À revista ele justificou, afirmando que é discreto e que é amigo, frequentador de casas de bilionários, e citou o potiguar Flávio Rocha. “Toda vida fui um cara discreto, não gosto de fama ou de holofote. Vou lá e faço tudo fisicamente. Assino. Você nunca vai achar meu nome nos processos eletrônicos, e faço de propósito. Não quero que saibam que advogo para o Flávio Rocha (acionista das lojas Riachuelo), para o David Feffer (acionista da Suzano Papel e Celulose). Esses são os tipos de cara que se relacionam comigo, bilionários. Frequento a casa deles, advogo nas coisas íntimas do cara, da esposa, dos filhos, da empresa”, disse Wassef, em seu característico tom espalhafatoso, falando alto e alternando gestos desencontrados com passadas da mão no cabelo revolto. Procurado à época pela revista, Flávio Rocha reagiu. “Ele nunca trabalhou para a gente. Nunca prestou nenhum serviço, o mais próximo foi na época de nossa campanha. Ele fazia parte de alguns grupos que se mobilizavam para divulgar as ideias lá em Brasília. Tinha centenas de pessoas que faziam isso, era um grupo difuso, ele não tinha um papel, era só um simpatizante. Mas nunca houve vínculo profissional, muito menos como advogado”. A visibilidade do advogado Frederick Wassef, de acordo com a reportagem de Bruno Abbud, da revista Época, se deu a partir da união estável com a empresária Maria Cristina Boner Leo. Pessoas influentes só conheciam Wassef como marido de Boner. Foi Wassef que assinou, como advogado, a separação litigiosa Cristina Boner com o ex-marido Antonio Bruno Di Giovanni Basso, ex-vice-presidente de contas de mercado governamental da Microsoft. Hoje ele diz que o casamento acabou, mas ele segue como representante legal da ex-companheira. Bruno Di Giovanni Basso foi condenado e preso por extorsão. A reportagem mostrou que no início dos anos 90, Boner apareceu em uma foto com o bilionário Bill Gates para anunciar que representaria a Microsoft com exclusividade em vendas do software Windows para órgãos públicos brasileiros. Logo, a pequena revenda de softwares da empresária, chamada TBA Informática, se transformou na TBA Holding, que hoje reúne mais de 30 empresas. O império no mercado da tecnologia foi montado em conjunto: Boner, como representante da Microsoft, e Basso, como executivo da multinacional e depois sócio na TBA. Os dois saíram a fechar contratos por todo o país. Com o divórcio em 2007, o processo de partilha envolveu um patrimônio avaliado na época em R$ 300 milhões. A divisão dos bens foi interrompida depois de Boner ter acusado o ex-marido de agressão e extorsão. Basso passou sete meses preso. A partilha ainda corre na Justiça. De empresária visionária, a ex-mulher de Frederick Wassef tornou-se ré por corrupção. Ela foi flagrada em um vídeo de 2006 no qual negocia propinas em troca de contratos com o governo do Distrito Federal (DF), à época comandado por José Roberto Arruda. Suas empresas haviam fechado contratos com a Caixa Econômica Federal, o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), os ministérios da Justiça e da Educação, Banco Central, INSS, Câmara dos Deputados, Tribunal Superior Eleitoral e Correios, até ela ser pilhada em negociatas escusas com o governo do DF. Na ocasião, o foco era um contrato para instalar em Brasília o projeto Na Hora, o Poupatempo candango, no qual Boner acabou se tornando alvo da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.