18/05/2018
Filho do vice de Lula diz que só aceita compor chapa se candidato for Flávio Rocha
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Empresário Josué Alencar vira objeto de desejo dos partidos
Cortejado pela esquerda, filho do vice de Lula nos dois mandatos é cotado até como candidato à Presidência por bloco de centro
POR CATARINA ALENCASTRO E CRISTIANE JUNGBLUT
BRASÍLIA — Cortejado por políticos de todos os lados do espectro ideológico, o empresário mineiro Josué Alencar, 54 anos, tornou-se o outsider da vez nas negociações que envolvem os partidos do centrão em Brasília, a dois meses das convenções de julho.
Filho do ex-vice-presidente José Alencar e herdeiro de um império empresarial, Josué filiou-se ao PR em abril com pretensões ambiciosas.
Saído do MDB do presidente Michel Temer, o empresário já foi cobiçado como vice pelo ex-presidente Lula e por Ciro Gomes (PDT). Agora, passou a ser cogitado até como cabeça de chapa do bloco formado por DEM, PP, PRB e Solidariedade, cujos candidatos à Presidência não emplacaram até agora.
Na manhã da última quarta-feira, Rodrigo Maia, que está à frente deste bloco, encontrou-se com Valdemar Costa Neto, um dos principais caciques do PR, e com integrantes da bancada do partido.
Na conversa, Valdemar deixou claro que procura um novo outsider, capaz de empolgar o eleitorado e os partidos do chamado centro.
No próximo dia 29, a pedido do próprio empresário mineiro, o PR vai promover um encontro dele com toda a bancada do partido na Câmara dos Deputados. O líder do PR na Casa, deputado José Rocha (BA), disse que ele foi chamado para falar à bancada.
— Queremos que Josué faça uma análise da situação atual do país — disse o líder.
Acompanhando à distância as conversas, o Palácio do Planalto considera o movimento do grupo de Maia uma prova de que esses partidos pretendem esgotar todas as possibilidades antes de negociarem um aliança com o pré-candidato tucano Geraldo Alckmin.
No café da manhã, segundo participantes, parlamentares do PR avaliaram que a candidatura de Ciro Gomes não é alternativa e que Alckmin não agrega.
NECESSIDADE DE 'TIRAR COELHO DA CARTOLA'
Um dos partidos envolvidos nas conversas em torno da candidatura de Josué, o PRB tem como pré-candidato o também empresário Flávio Rocha, da rede de lojas de departamento Riachuelo.
Em setembro de 2017, em um evento em São Paulo, Josué fez declarações públicas de apoio ao colega empresário:
— Só aceitaria (ser vice) se for do Flávio Rocha (presidente do Grupo Guararapes, da rede Riachuelo). Se ele se lançar à Presidência, meu voto é dele, e se me convidasse para a vice, eu aceitaria. Mas, fora isso, estou 100% focado nas nossas empresas — afirmou Josué
Nas negociações em curso, os partidos reunidos no entorno de Rodrigo Maia acreditam que a estagnação nas pesquisas dos nomes lançados até agora revela a necessidade de se “tirar um coelho da cartola”, como resume um cacique do PP:
— O episódio Joaquim Barbosa já mostrou que há espaço para uma novidade, ninguém quer esses que estão aí. O Josué seria um fator novo na eleição.
Um dos atrativos de Josué, além da conta bancária e da capacidade para financiar sua própria campanha, seria a forte identidade da família Alencar com Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral.
O fato de ser filho do companheiro de chapa de Lula também poderia ajudar Josué a ser poupado dos ataques da esquerda.
O perfil de Josué também agradaria pelo bom trânsito com o mercado financeiro e pelo pensamento econômico com viés mais reformista. Outro ativo de Josué é que ele já passou pela experiência de uma eleição. Em 2014, quando ainda era filiado ao MDB, concorreu ao Senado, mas não conseguiu se eleger.
O plano em torno da candidatura do empresário mineiro vinha sendo gestado há alguns dias, mas foi tratado com mais ênfase na noite de terça-feira, quando o próprio Maia comandou um jantar na casa do ministro das Cidades, Alexandre Baldy, do PP. Estavam presentes lideranças do DEM, PP, PSC e um interlocutor do PR, partido de Josué. Coube ao ex-deputado Bernardo Santana (PR-MG) levar um relatório do encontro a Valdemar Costa Neto para saber se a ideia conta com seu aval. Um defensor do projeto diz que ele já foi sondado sobre esse plano e “topou”.
A partir do aval de Valdemar, o potencial eleitoral de Josué passará a ser testado. Serão encomendadas pesquisas qualitativas para ver a expectativa de crescimento do empresário.
— O bloco tem uma responsabilidade com o Brasil e vai seguir unido nesta eleição. Temos que estar com um candidato que tenha visão de que a economia é a questão central, que vamos ter que apresentar uma plataforma de combate ao desemprego — afirma o deputado Áureo (SD-RJ).
O núcleo duro desse novo centrão é formado pelos quatro partidos e pode contar ainda com a adesão do PR, PSC e Avante. Somadas, essas siglas chegam a mais de 200 deputados. No quesito tempo de TV, contam com quase 3,5 minutos, algo como 25% do tempo total.