21/07/2017
Paulo Balá: A história do imortal acariense
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Do Diário de Natal, texto reproduzido pelo acariense Jesus de Miúdo em seu blog Acari do Meu Amor.
Um registro do orgulho da cidade por ver seu filho ilustre na Academia de Letras.
Publicado em 5 de dezembro de 2008:
Dr. Paulo Bezerra
Não passará em branco nesse espaço o grande orgulho que Acari hoje sente em ter o Dr. Paulo Balá como imortal na Academia Norte-Rio-grandense de Letras, não!
Dr. Paulo Bezerra foi eleito para preencher a cadeira número 12 deixada pelo grande Oswaldo Lamartine de Farias. Dois homens preocupados em eternizar as coisas do nosso sertão.
A posse foi ontem.
E eis o que o jornal Diário de Natal publicou:
Um sertanejo Acariense na academia
Com raízes fincadas no Seridó, o médico Paulo Bezerra passou a relatar através de cartas direcionadas ao amigo jornalista Woden Madruga, os hábitos, a religiosidade, os costumes, enfim, o cotidiano do sertanejo.
As missivas se transformaram em um registro tão importante das particularidades do povo sertanejo que foram transformadas em obras literárias, e estas foram o seu passaporte para a Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Eleito por unanimidade, Paulo Balá, como é mais conhecido no mundo da literatura, será empossado na cadeira de número 12 da ANL, às 20h30 de hoje, na sede da referida instituição.
O trabalho de registro desenvolvido pelo mais novo imortal tem fortes semelhanças com os escritos de seu antecessor na cadeira, o etnógrafo Oswaldo Lamartine.
O patrono da vaga é Amaro Cavalcanti. O discurso de saudação será feito por Ernani Rosado, seu amigo de anos. Ele será recepcionado por Pery Lamartine, pelo padre José Mário e por Valério Mesquita, ‘‘queria que essa recepção foi feita por três seridoenses. Que seriam Pery, o padre e Iaperi Araújo. Mas Iaperi não estará em Natal, então eu misturei com um comedor de caranguejo para dar certo’’, explica entre risos.
A literatura sempre foi uma atividade presente em sua vida, embora ele só tenha publicado a primeira obra há cerca de nove anos, Cartas dos Sertões do Seridó. O segundo livro, cujo título foi sugerido pelo seu antecessor na academia, Oswaldo Lamartine, Outras Cartas dos Sertões do Seridó, virou obra há quatro anos.
‘‘O meu trabalho é parecido com o de Oswaldo. Ele me dizia que o que eu escrevo se assemelhava ao que ele fazia, mas com um enfoque diferente. O trabalho dele era de maior pesquisa e o meu registra os hábitos e as histórias do Seridó’’, diz o médico. ‘‘Ele dizia que gostava de mim porque eu não sou intelectual’’, risos.
Atualmente Paulo Balá trabalha no terceiro título, que provavelmente será lançado no próximo ano e chamará Novas cartas dos Sertões do Seridó.
‘‘Nessas cartas eu registro as tradições, as conversas do meu pai, as histórias que escutava dos mais antigos, as coisas do sertão, revelo os hábitos dos sertanejos se vestir, a religiosidade, os utensílios, as coisas do Seridó’’.
Aos 75 anos, ele diz com orgulho que é natural de Acari, ‘‘cidade boa, é a mais limpa do Brasil, pois só tem uma rua e o vento é a favor, quando passa leva a sujeira’’, solta a brincadeira.
Ele lembra que os costumes do sertanejo mudaram muito com o tempo, e afirma que foi por causa do progresso, ‘‘a comunicação antes era difícil, só tinha o Correio, telegrama. Hoje em dia toda bodega tem televisão, toda cabra sabe da crise dos Estados Unidos. Isso começou com o rádio de pilha, depois com o telefone e assim foi’’.
Ele não considera o progresso uma coisa maléfica, mais ressalta que muita coisa mudou, como o sabor da carne de sol.
‘‘Hoje trazem a carne resfriada do sul, salgam e dizem que é do sertão’’.
Lembra também que não existe mais o costume de usar chapéu, os sinos das igrejas não tocam mais anunciando as mortes e as serestas não são mais realizadas.
Sobre o apelido de Paulo Balá, ‘‘foi uma herança de papai que se chamava Silvino Bezerra, mas era conhecido como Silvino Balá. Ele dizia que era um apelido que colocaram nele no tempo da escola. Ele só deve ter passado uns dois anos na escola, aprendeu as primeiras letras e as quatro operações’’, afirma.
(Hayssa Pacheco - Diário de Natal)