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02/07/2016





Tchau hub da Latam

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Que hub que nada... Não vai ser dessa vez que o Rio Grande do Norte sediará o tão esperado hub da Latam. O RN, Pernambuco e Ceará jogaram dinheiro fora contratando consultorias, projetos... Foram atropelados pela crise, como disse a presidente da Latam, Cláudia Sender, em entrevista exclusiva ao Globo de hoje. Abaixo a íntegra da entrevista: ‘Indústria da aviação está em estágio de coma’, diz presidente da Latam RIO - Na presidência da Latam Brasil desde 2013, Claudia Sender defende não apenas a abertura de capital a estrangeiros como mudanças nas regras do setor para que a aviação saia do “coma”.  Com a demanda fraca, o projeto do hub do Nordeste foi suspenso, e a previsão é cortar 35% dos voos para os EUA. O recuo do governo na liberação de 100% ao capital estrangeiro nas aéreas prejudica a Latam Brasil (ex-TAM)? A gente tem uma estrutura acionária que funciona (os estrangeiros, liderados pela família Cueto tem 20% do capital votante da Latam Brasil, limite hoje permitido pela lei). Para nós, não faz diferença. E para a indústria? A indústria aérea é de capital muito intensivo, com compromissos de longo prazo e cujo resultado é muito impactado pelos ciclos da economia. Nos últimos dois anos, as quatro maiores empresas do país somadas perderam R$ 10 bilhões. Não há como uma empresa aguentar isso com o custo de capital no Brasil. Os bancos brasileiros estão muito avessos a risco, há bastante tempo o mercado está fechado para as aéreas brasileiras. É a favor de 49% ou 100% de capital estrangeiro? A gente acredita que os 49% é uma evolução em cima dos 20%. Qual deve ser o limite é um questionamento menor. Como a entrada de sócios estrangeiros ajudaria as empresas brasileiras? O que a aviação brasileira vive hoje é uma jabuticaba, e não é o capital estrangeiro que vai resolver. O que o capital estrangeiro ajuda é que as empresas passem por ciclos econômicos mais críticos sem quebrar. Mas, se o Brasil continuar com a estrutura de custos que tem, com a complexidade jurídica que tem, com a estrutura trabalhista que tem, não existe empresa no mundo que invista a fundo perdido. Há o temor de perda de postos de trabalho. Independentemente de quanto do capital é estrangeiro ou não, as empresas que operam no Brasil precisam obedecer o Código Brasileiro de Aeronáutica. Então, não vão destruir o emprego do aeronauta brasileiro. Para mim, é um pouco difícil de entender o porquê da resistência à abertura do capital ao estrangeiro O governo também quer mudar as regras do setor, como acabar com a franquia de bagagem. Como vê essas mudanças? Hoje existe um grande pacote de discussões que a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) tem liderado junto ao governo para que a gente saia do estágio de coma da indústria da aviação brasileira. O primeiro ponto da agenda é a incidência de ICMS (sobre o querosene de aviação) e a revisão das alíquotas. Abastecer em Recife custa três vezes mais por litro do que abastecer em Miami. E 40% do nosso custo é combustível. E quanto às bagagens? O Brasil é o um entre quatro países no mundo que não permite a cobrança da primeira bagagem. Está ao lado de países como Bolívia e Venezuela, que não têm uma indústria de aviação desenvolvida como a brasileira. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) também quer mexer na resolução que trata de compensações aos usuários em caso de atraso ou cancelamento de voo por mau tempo. A mudança climática é um risco do seu negócio. Não deveria estar embutida no seu preço? Está. Mas por que vou penalizar o passageiro que voa entre Belém e Manaus se o Santos Dumont fechou hoje? Isso acaba sendo distribuído no preço para todo mundo. O tema meteorologia não existe em nenhum outro lugar do mundo. Se você vai a Nova York e fecha (o aeroporto) numa nevasca, nenhum passageiro espera ser recompensado. Por um lado, é risco do negócio. Do outro lado, é risco do passageiro que resolveu voar na véspera de Natal quando tem uma nevasca em Nova York. Num mercado mais maduro, o passageiro também assume o risco. Você acha que o risco deve ser partilhado? A gente precisa se adequar às práticas mundiais. O que a gente está criando no Brasil é uma aviação não competitiva. Outro ponto é a jornada de trabalho do aeronauta. Um tripulante internacional da Latam que faz a rota Londres-São Paulo faz essa rota três vezes no mês. O tripulante da British Airways faz quatro vezes. Ele é 33% mais produtivo que o nosso tripulante. Mão de obra é o segundo maior custo para nós, depois de combustível. A preocupação é se as tarifas de fato vão cair, após a desregulamentação. O que aconteceu no mundo todo? O Brasil, às vezes, não é igual ao mundo todo... Se tivermos desregulamentação e dermos escolha para o passageiro, quem decide é o pasageiro. Os insumos em dólares, que representam 60% dos nossos custos totais, mais que dobraram nos últimos dois anos. Por que não conseguimos repassar esses custos? Porque não tem demanda. Quem manda é o passageiro. A gente entra numa linha de tutelar o passageiro e protegê-lo tanto, que acaba criando muita restrição e ficando tudo mais caro para ele. Todas as aéreas cortaram voos no mercado doméstico este ano. A Latam decidiu cortar 35% dos voos para os EUA, que é o principal destino dos brasileiros no exterior. Por quê? A demanda pelos voos Brasil-EUA caiu 50% nos últimos dois anos. O brasileiro usava os Estados Unidos como um destino de compras. E aí, quando já não é tão interessante fazer o enxoval em Miami ou fazer compras nos outlets... Os outlets de Miami e de Nova York entraram numa grande crise com a desvalorização do real. Com a demanda fraca, como fica o projeto do hub (centro de distribuição de voos) do Nordeste? Mesmo com a crise, o Nordeste continua sendo a esquina do continente. Ele tem posição geográfica estratégica para ser o ponto de conexão entre América do Sul e Europa. Continua sendo um objetivo estratégico para a gente. Mas, dado o nível de demanda hoje, tem que ser levado com um pouco mais de cautela. O projeto está on hold (em suspenso). A gente vai continuar avaliando a demanda e a infraestrutura disponível. Este ano não sai decisão.

O projeto está on hold (em suspenso). Cláudia Sender
A Latam tem prejuízo desde 2011, quando a demanda ainda crescia. Houve má gestão? A aviação é uma indústria suscetível a muitos choques. A evolução do preço do petróleo, em 2010, 2011, 2012, aquela explosão dos preços dos combustíveis, não tava dentro das projeções quando fizemos nosso planejamento de frota. E o Brasil passou por uma maxidesvalorização cambial. Quando entrei na TAM em dezembro de 2011, o dólar tava a R$ 1,69. Hoje, a gente dá graças a Deus que esteja em R$ 3,20. Cerca de 60% dos nossos custos são dolarizados. Não é um mercado de fácil projeção. Com qual projeção para o PIB a Latam trabalha este ano? Encolhimento do PIB muito parecido do ano passado e potencial estabilidade, para um ligeiro crescimento em 2017. Duvido que em 2012 qualquer analista pudesse prever que o Brasil teria dois anos de encolhimento de 4%. O mercado brasileiro comporta quatro aéreas? Ele tem potencial de dobrar de tamanho muito rapidamente. No Brasil, temos 0,5 viagem por habitante por ano. O Chile tem 0,95. Agora, a gente precisa de um mercado que suporte a aviação, que você possa dar escolha para o passageiro. Quer despachar bagagem? É possível, desde que pague por isso. Se o mercado crescer, comporta até mais empresas. E tem que sobreviver quem for mais competente. Com o novo governo, houve mudança de interlocução com as empresas? Uma das coisas que o novo governo entende é que o déficit primário e o investment grade (selo de investimento seguro) são muito importantes para a população. Para a população, o que vale é emprego. E quem vai gerar emprego são as empresas. E para as empresas voltarem a investir no Brasil é preciso confiança. Hoje, o que existe é esperança. O que mudou efetivamente na interlocução é que o governo está tentando construir um caminho de confiança no setor privado para que se retome o investimento no Brasil. Agora, isso leva tempo. Nomear ministros que são investigados pela Lava-Jato inspira confiança? A gente tem que esperar uma consolidação do processo de impeachment. Independentemente de quem seja o presidente, a gente precisa ter clareza de quais serão os próximos passos.

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