16/05/2016
Entre duas sugestões, Michelzinho escolheu a nova logomarca do governo
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
"Quando entrou na sala, ele olhou e falou 'que lindo', com uma expressão de criança mesmo, verdadeira e emocional. Se uma criança gosta, é porque a gente tem algo puro, tem algo bom na mão. Foi o Michelzinho quem escolheu a marca."
Elsinho Mouco, o publicitário por trás da nova identidade visual do governo do país sob comando de Michel Temer, fala extasiado sobre o momento em que o filho de sete anos do presidente interino se encantou pela imagem que seu pai vai usar para simbolizar e vender o atual momento político.
Das duas versões mostradas às vésperas do afastamento da presidente Dilma Rousseff a Temer e sua mulher, Marcela, na casa da família em São Paulo, Michelzinho gostou daquela em que a esfera celeste com uma faixa que diz "Ordem e Progresso" flutua sobre a palavra "Brasil" vista em perspectiva, logo abaixo do globo.
Esse recurso ao lema da bandeira nacional não é um acaso. Tem a ver com a explosão de verde e amarelo que tomou conta das ruas nos movimentos contra a administração petista, alvo de marchas históricas pelo país, como a que levou meio milhão de manifestantes à avenida Paulista em março, o maior ato político já registrado em São Paulo.
Mas mesmo que tenha encantado os Temer num momento fofo dos bastidores do marketing político, o gosto de Michelzinho não reflete as tendências do design atual.
Um tanto retrô, distante da onda de simplificação e releitura da austeridade do modernismo que domina o design nos últimos anos, a marca causou estranhamento entre designers ouvidos pela Folha pelo uso do degradê azulado e de seus contornos tridimensionais.
PLIM-PLIM
Na visão de Rico Lins, que está no júri do prêmio de design do Museu da Casa Brasileira, a marca de Temer também lembra uma espécie de "Globo requentada". "É superconservador, retrógrado."
Vários designers compararam a peça ao trabalho de Hans Donner, criador da identidade visual da TV Globo no auge de sua carreira, que decolou em 1974 com o logo da emissora desenhado num guardanapo.
"Não tem uma mensagem nova. É uma marca muito feia, muito 'coxinha' e feita às pressas. Não tem estudo, elegância. Parece uma coisa do Hans Donner de 50 anos atrás. Já mostra de cara uma certa caretice e ranço desse governo", afirma o designer Milton Cipis, da agência Brander. "Não é moderno, jovem, não tem esperança, não tem nada."