20/03/2016
Astrônomo da UFRN que descobriu estrelas gêmeas do sol tem novo estudo divulgado em publicação científica
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Sol jovem destruiu atmosfera de Marte e quase acabou com a da Terra
Estudo liderado por brasileiro mostra como nosso planeta se protegeu da atividade solar
RIO - O Sol que possibilita a vida na Terra por pouco não tornou o nosso planeta inabitável. Em estudo publicado nesta terça-feira, astrônomos brasileiros mostram como a atividade solar pode ter destruído a atmosfera de Marte há bilhões de anos. A pesquisa também sugere que a dinâmica da estrela só não fez o mesmo com a Terra porque nosso campo magnético, mais forte, protegeu o planeta azul.
Nas últimas duas décadas, cientistas confirmaram a existência de mais de dois mil planetas extrassolares, com outros milhares aguardando verificação. Destes, umas poucas dezenas foram classificados como dentro da chamada “zona habitável” de suas estrelas, isto é, orbitando-as a uma distância em que teoricamente sua temperatura não seria nem quente nem fria demais de forma a permitir que tenham água em estado líquido na sua superfície, condição considerada essencial para o desenvolvimento ou manutenção de vida como conhecemos.
Mas embora a questão da temperatura seja importante, ela não é suficiente para saber se um planeta (ou uma eventual lua rochosa em sua órbita, caso seja um gigante gasoso) pode ser habitável ou não, e provas disso estão no nosso próprio Sistema Solar. Dependendo do critério usado, além da Terra, tanto Vênus quanto Marte estariam na zona habitável de nossa estrela. O primeiro é um inferno alimentado por um efeito estufa descontrolado de sua densa atmosfera, o que faz com que a temperatura na sua superfície seja alta o bastante para derreter chumbo. Já o segundo é um deserto gelado, com uma atmosfera extremamente rarefeita e incapaz de gerar um efeito estufa forte suficiente para esquentá-lo.
A atmosfera marciana, no entanto, nem sempre foi tão tênue. Estudo liderado pelo astrônomo brasileiro José Dias do Nascimento mediu pela primeira vez a intensidade do campo magnético e do vento estelar de uma estrela que pode ser considerada como uma versão mais nova do Sol, demonstrando como a alta atividade de nossa estrela há bilhões de anos pode ter destruído a atmosfera de Marte, enquanto a Terra conseguiu manter a sua graças justamente ao fato de ser maior e ter um campo magnético mais forte para protegê-la.
- Para ser habitável, um planeta precisa de calor e água, mas ele também necessita ser protegido de um Sol jovem e violento – diz Nascimento, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pesquisador visitante do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian (CfA), nos EUA, e primeiro autor de artigo sobre as medições da magnetosfera da estrela, batizada Kappa Ceti, e sua teórica interação com um planeta parecido com a Terra que estivesse na sua órbita, publicado nesta quarta-feira no periódico científico “The Astrophysical Journal Letters”.
Localizada a cerca de 30 anos-luz de distância da Terra na direção da constelação de Cetus (Baleia), Kappa Ceti é notavelmente similar ao Sol, com praticamente a mesma massa, raio e composição de nossa estrela. Ela, no entanto, gira muito rápido, completando uma rotação a cada nove dias, numa indicação de que é muito jovem, com idade estimada em apenas 400 milhões a 600 milhões de anos (o Sol tem idade calculada em cerca de 4,6 bilhões de anos, e completa uma rotação aproximadamente cada 25 dias na altura de seu equador).
A alta velocidade de rotação de Kappa Ceti faz com que a atividade magnética da estrela seja muito mais intensa que a do Sol. Assim, sua superfície é coalhada de gigantescas manchas, muito maiores e numerosas do que na nossa estrela. Seu vento estelar também é muito mais intenso, 50 vezes mais forte que o do Sol. Por fim, ela também está sujeita a fenômenos conhecidos como “superflares”, enormes erupções que liberam de 10 milhões a 100 milhões de vezes a energia dos maiores episódios do tipo já observados no Sol.
Segundo os pesquisadores, neste clima espacial tão turbulento, um planeta na sua zona habitável certamente perderia sua atmosfera, a não ser que tivesse seu próprio campo magnético e ele fosse forte o bastante para protegê-lo. Diante disso, Nascimento e equipe criaram um modelo de como o intenso vento estelar de Kappa Ceti afetaria uma Terra em sua juventude, justamente na época que se acredita que as primeiras formas de vida surgiram em nosso planeta. Levando em conta indicações de que o campo magnético da Terra quando tinha apenas cerca de 500 milhões de anos de idade era tão forte ou só um pouco mais fraco do que é hoje, eles concluíram que este escudo protetor teria apenas a metade a um terço do tamanho atual, mas ainda assim seria o suficiente para evitar que nosso planeta perdesse sua atmosfera.
- A Terra antiga não tinha tanta proteção quanto tem agora, mas ainda tinha o bastante – conta Nascimento.
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Do Blog - O resultado de mais um estudo do astrofísico potiguar José Dias Nascimento, publicado no dia 16 n'O Globo, foi publicado no dia seguinte pelo americano The Washington Post.