24/06/2015
Polícia intercepta bilhete de presidente da Odebrecht pedindo para advogado destruir e-mails
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'Destruir e-mail sondas', diz bilhete de Marcelo Odebrecht para advogados
Advogados falam em malícia na interpretação da Polícia Federal (PF). Presidente da empreiteira foi preso na 14ª fase da Operação Lava Jato
Marcelo Odebrecht escreveu um bilhete para os advogados em que consta a frase "destruir e-mail sondas". Ele está preso preventivamente na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba, desde o dia 19 de junho. O bilhete foi entregue a agentes para que, então, chegasse aos advogados do suspeito de envolvimento em crimes investigados na Operação Lava Jato.
A Justiça Federal foi informada da situação por meio de um ofício, que foi anexado ao processo nesta quarta-feira (24), assinado pelo delegado da PF Eduardo Mauat da Silva. Os policiais tiveram acesso ao bilhete na manhã de segunda-feira (22).
"Como de praxe as correspondências dos internos são examinadas por medida segurança, tendo chamado a atenção da equipe a expressão 'destruir e-mail sondas', o que motivou (sic) fosse feita uma fotocópia do documento, entendendo os policiais que não haveria problema na entrega do original aos advogados, uma vez que os mesmos iriam ter contato com o preso de qualquer maneira na sequência", explica o delegado.
Este e-mail citado no bilhete foi considerado pelo juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato na primeira instância, como elemento probatório da participação da Odebrecht em cartel.
Conforme o ofício da Polícia Federal, os advogados Rodrigo Sanches Rios e Dora Cavalcanti Cordani, que fazem a defesa de Odebrecht, foram até o gabinete do delegado Mauat nesta semana e afirmaram que o verbo destruir se tratava de uma “estratégia processual e não a suspensão de provas”.
Por meio de uma petição protocolada na terça-feira (23), os advogados de Odebrecht afirmam que “as anotações não continham o mais remoto comando para que as provas fossem destruídas, e que – à toda evidência – a palavrar destruir fora empregada no sentido de desconstituir, rebater, infirmar a interpretação equivocada que foi feita sobre o conteúdo do e-mail”.
Para os advogados, o conteúdo do bilhete foi "maliciosamente" interpretado como indícios de prática de crime.
E-mail
O e-mail foi apreendido na sede da empresa em novembro de 2014. A mensagem foi enviada por Roberto Prisco Ramos – ex-funcionário da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht – para Odebrecht e executivos.
No documento, é feita referência à colocação de sobrepreço de até U$S 25 mil por dia a um contrato de operação de sondas, o que, segundo Moro, remete aos contratos da empresa com a Petrobras. Prisco Ramos ainda faz uma ressalva quanto ao envolvimento da UTC e da OAS, “para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas”.
À época, em nota, a Braskem informou que Roberto Prisco Ramos já não era funcionário da Braskem quando enviou o email, tendo sido transferido no ano anterior para outra empresa do Grupo Odebrecht. Informou ainda que o conteúdo da mensagem, inclusive a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem.
14ª fase da Lava Jato
As empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez foram alvos da 14ª fase da Lava Jato, deflagrada em 19 junho, quando 12 pessoas foram presas. De acordo com a PF e o Ministério Público Federal (MPF), as empresas agiam de forma mais sofisticada no esquema de corrupção e fraudes de licitações da Petrobras. Esse diferencial, segundo o MPF, estava no pagamento de propina a diretores da estatal via contas bancárias no exterior.
De acordo com a PF, há indícios de que os presidentes das empresas, que foram presos, participaram de negociações que levaram à formação de cartel e direcionamento de licitações feitas pela Petrobras. Eles "tinham pleno domínio de tudo o que acontecia na empresa", disse o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula.
Os executivos são suspeitos de crime de formação de cartel, fraude em licitações, corrupção de agentes públicos, lavagem de dinheiro e evasão de divisas, ainda conforme a PF.