20/03/2015
Petrobras: a queda do "inabalável"amigo de Lula
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Gerente de comunicação demitido na Petrobras, Santarosa era considerado ‘inabalável’ as crises na estatal
Ex-sindicalista ligado a Lula foi demitido depois de resistir 12 anos na cúpula da empresa
POR JORGE BASTOS MORENO, RAMONA ORDOÑEZ E ALEXANDRE RODRIGUES
BRASÍLIA E RIO — No início da manhã desta quinta-feira, o presidente da Petrobras, Almir Bendine, chamou um assessor e mandou que ele demitisse o gerente executivo de Comunicação Institucional, Wilson Santarosa. O assessor titubeou:
— Mas, hierarquicamente, ele está ligado ao senhor. Só o senhor pode fazer isso.
Bendine, concentrado no desafio de viabilizar o balanço auditado da empresa de 2014, mandou o assessor ir adiante:
— Estou sem tempo. E preciso consumar isso agora de manhã.
A rápida decisão de afastar Santarosa surpreendeu não apenas o assessor de Bendine, mas a maioria dos funcionários da Petrobras. Ex-sindicalista, considerado um amigo do ex-presidente Lula, ele ocupava há 12 anos um dos cargos mais cobiçados da estatal e do governo. Nada o abalava. Nem a suspeita de envolvimento com o escândalo dos “aloprados”, em 2006.
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Santarosa controlava toda a verba de comunicação e publicidade institucional da Petrobras, incluindo patrocínios e apoios culturais. Em 2013, a estatal gastou só em publicidade institucional R$ 300 milhões. Até o terceiro trimestre do ano passado, foram R$ 1,337 bilhão gastos com a área de Relações Institucionais e Projetos Culturais, de responsabilidade dele.
Ex-operador de estocagem de uma refinaria da Petrobras em Campinas, ele foi dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) antes de se tornar um dos executivos mais poderosos da estatal, mesmo sem ter curso superior. Influenciava outras áreas da estatal e também a Petros, o fundo de pensão dos funcionários da estatal, da qual foi presidente do conselho deliberativo indicado pelo governo. A Petros é um dos alvos da Lava-Jato, assim como a área de comunicação da Petrobras. Um dos casos suspeitos que Venina Velosa disse ter contado à ex-presidente Graça Foster desde 2008 é dessa área.
A indicação dele para o cargo, em 2003, é atribuída, além do próprio Lula, aos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, morto em 2013. O ex-ministro Edison Lobão, e Graça Foster já haviam tentado tirá-lo do cargo, sem sucesso. Até que, ontem, ele se tornou o primeiro da lista de Bendine. Desde que chegou à estatal, em fevereiro, não havia feito qualquer mudança no alto escalão. Segundo fonte, quem vai assumir interinamente o lugar dele será Luis Fernando Nery, ex-gerente de Responsabilidade Social.