14/09/2014
Iberê Ferreira de Souza e a luta que chega ao fim
[0] Comentários | Deixe seu comentário.O ex-governador Iberê Ferreira de Souza descobriu que tinha câncer no final de seu governo tampão, quando substituiu, como vice, a titular Wilma de Faria, que renunciou ao cargo para ser candidata ao Senado.
Começo de 2010.
Mesmo assim, enfrentou a campanha para tentar se eleger governador.
Sabia que não seria fácil, mas enfrentou.
Foi exatamente nesse perído, quatro anos atrás, que ele lutou intensamente para vencer na política.
Perdeu para a governadora Rosalba Ciarlini.
Iberê foi guerreiro na campanha, como foi guerreiro no tempo que lhe restou entre o governo e sua partida hoje.
Uma cirurgia atrás da outra.
Algumas no cérebro, para retirada de novos nódulos.
No meio da luta, Iberê perdeu a mulher Celina, que há anos sofria de ELA, a síndrome hoje tão discutida no mundo.
Seis de agosto do ano passado. Um ano e um mês atrás.
Iberê completou 70 anos no dia 27 de fevereiro. Era dia do aniversário do meu pai e a cada ano eu lembrava a ele a coincidência.
Liguei pra lhe dar parabéns esse ano, como sempre fazia, e ele me disse que não haveria comemoração.
Acordou cedo e foi a Santa Cruz onde assistiu à missa no Santuário de Santa Rita de Cássia.
Não contava com uma festa surpresa feita pelo filho Joca Ferreira, vice-prefeito de Santa Cruz, à noite em sua casa, onde reuniu familiares e os poucos amigos que ainda o visitavam com frequência.
Uma vez visitei Iberê.
Levei-lhe um livro de presente. "Não há silêncio que não termine", onde a senadora colombiana Ingrid Betancourt contava seus anos de cativeiro na selva colombiana.
Em maio passado Iberê recebeu em sua fazenda, em Santa Cruz, o então presidenciável Eduardo Campos, presidente nacional do PSB.
O ex-governador era vice-presidente da legenda no Rio Grande do Norte.
Foi no dia 23 de maio.
No dia 17 ele falou comigo.
Foi a última vez.
Me convidou para ir ao almoço na fazenda. Eu acabei não indo. Na ocasião da ligação, me contou que tinha acabado de falar com Campos e confirmado sua agenda em Santa Cruz.
*
A cada novidade ruim do seu estado de saúde, que ele encarava como mais um grande desafio, Iberê me ligava.
Dizia que confiava em mim, e pedia que a notícia fosse divulgada. Era contra esconder os fatos, por pior que eles fossem.
Prometia me ligar assim que terminasse o procedimento, e assim fazia. Do hospital, em São Paulo, ligava para me dar notícia.
Sempre em primeira mão.
Como fez hoje, quando resolveu partir
Uma meia hora antes de saber da notícia, estava na cozinha fazendo jantar, quando minha filha Maria Fernanda chegou cantando: "Bará, bará, bará, Berê, berê, berê"...
Perguntou se era a música de Iberê e eu respondi que sm.
E ela perguntou o que era ele na política.
Lhe contei a partir do cargo de vice-governador, governador por um ano, candidato à reeleição sem sucesso.
Cantamos juntas a música, bem alto, na cozinha.
Trinta minutos depois fui informada...
Mas, o recado já havia sido mandado por ele, em forma de alegria, como ele sempre estava quando me ligava para dizer que o câncer tinha voltado e que iria se submeter a uma nova cirurgia.
Depois de temporada na UTI do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, Iberê descansa.
Em paz, levando para a eternidade o seu bom humor e sua elegância.
Elegância que traduziu para mim através de presente personalizado em homenagem ao Blog.
O conjunto de xícaras com a cara do Blog, vai ficar guardado para sempre.
Presente que ele fez questão de me contar: fez para mim e para os jornalistas Felinto Rodrigues e Vicente Serejo.
Em quem ele confiava, a quem ele respeitava.
Descanse, guerreiro...
