22/06/2013
#opovoquerfalar: 'Mais quatro anos', por Rubens Lemos
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Do jornalista Rubens Lemos Filho
Mais quatro anos!
Antes de sair de casa, se consultava o calendário. Agora é o noticiário. A semana inglesa tradicional mudou. O cidadão normal depende do humor das manifestações para se locomover. Atos públicos são frutos da democracia e o direito de ser contra também. Sou favorável a passeatas desde que exista sentido. Queimar ônibus, depredar patrimônios públicos ou empresas privadas não significa cidadania. Representa vandalismo. Tenho também, o direito de não considerar minha opinião de direita pois não creio em esquerda, centro ou direita. Creio no respeito à liberdade de cada um. O golpe que derrubou João Goulart em 1964, a Ditadura instalada e apelidada de Revolução, baseou-se no medo da implantação do comunismo no Brasil, paranoia insuflada pelos Estados Unidos, incomodados com as reformas de base. Sem qualquer habilidade política ou respaldo militar - fundamentais para uma jogada de tamanha envergadura, Jango encampou multinacionais. Cobras venenosas como Carlos Lacerda e Magalhães Pinto juntaram-se aos generais, mobilizaram tropas militares e à classe média sempre temerária e irritada com o poder vigente em nome da "família com deus pela liberdade". Jango foi derrubado sem razão, mas a história reservou ao menos um pretexto para o desfecho que demoraria 21 anos trágicos que começaram em passeatas, mergulharam em torturas e guerrilha urbana e acabaram em um colégio eleitoral elegendo um presidente consagrado pelo povo e que morreu sem tomar posse: Tancredo Neves. Agora é detetivesco achar a razão para tanto tumulto. A cobertura de imprensa aumentou após a selvageria policial em São Paulo contra jornalistas. Duvido, acho que até aposto uma cervejada, no volume de acompanhamento de TVs, rádios, portais de internet e jornais tradicionais caso os repórteres não tivessem sido atingidos. O velho mestre Samuel Wainer, fundador da Última Hora com recursos generosos do Governo Getúlio Vargas e não foi e nem é no Brasil o único a receber dinheiro público, já dizia: "Se existe um tipo de ser humano que não pode apanhar nem muito menos morrer no Brasil é jornalista que se acha diferente de toda espécie." A pancadaria oficial gerou o reverso: Policiais foram encurralados e humilhados no Rio de Janeiro e a cobertura do fato foi bem menos incisiva. Enfim, protestava-se contra o aumento das passagens de ônibus, uma revolta que, como rastilho de pólvora, espalhou-se pelo país inteiro. Cá para nós, usuário de ônibus mesmo é minoria na agressividade. Se a massa geral que sai de casa às 5 da manhã para trabalhar às 8 horas e volta à noite com direito a uns 300 minutos de sono resolvesse se rebelar, o país estaria em escombros como a Alemanha após a Segunda Guerra, pelo motivo natural da perversidade de Hitler. Qual a razão do movimento que parou e vem causando espanto e apreensão no Brasil? É a revolta pelo mensalão? Os impunes do mensalão estão impunes há muito tempo e não houve efervescência cívica. É a votação da PEC 37? Os debates estão no calor das redes sociais e nas teses conceituais de cada lado. O que um queimador de ônibus tem a ver com a PEC 37 que endurece punição a criminoso? Deve ter é medo. Que noção de cidadania tem quem tenta destruir um shopping center onde estão trabalhadores em atividade e os donos(legítimos) bem longe? Dias atrás, no noticiário da hora do almoço, um pequeno sinal de quem nem só de vadiagem o ruído das ruas era composto em suas notas. Uma velhinha, nos seus 80 anos, cabelos brancos berrando ao repórter: "Não me confundam com esses meninos! Eu reclamo é do custo de vida. Dos aumentos, da falta de segurança e de saúde". Uma senhora pista, sem trocadilho. Mais tarde, na TV Câmara, um deputado do PT, aos berros, protestava, sem bandeiras nem coquetéis de fogo, contra seus companheiros de cruzada: "Hoje o povo não aguenta ver quem pregou um discurso praticar tudo ao contrário, quase todo mundo pendurado em cargo do governo como reclamava dos outros." Em Natal, o jornalista Ênio Sinedino postou no twitter uma imagem exuberante. Uma multidão tomando a BR-101 como nas inesquecíveis passeatas políticas que vi, criança, em 1982, com José Agripino contra Aluizio Alves para governador, Garibaldi versus Wilma em 1985 para a prefeitura e Geraldo Melo ganhando o Governo do Estado em 1986. Famílias inteiras, grupos de amigos, profissionais liberais, estudantes de verdade, cobravam o fim do assistencialismo como forma e conteúdo do Governo petista de bolsas aos pobres e decadência de serviços básicos e de melhoria na qualidade de vida da maioria do povo. Partidos cavilosos tentaram se aproveitar e foram solenemente repelidos. A bandeira era o sentimento de cada um. Governos ufanistas usam a propaganda como ferramenta de manipulação. Quem sabe esteja caindo a máscara da unanimidade que tem vida útil em qualquer país ou cultura, custe o tempo que custar. Aquele slogan de Richard Nixon: "Mais quatro anos, mais quatro anos', está tão ameaçado quanto em 1974, quando o Escândalo de Watergate o pulverizou. Acabaram as ferias da presidenta. Rubens Lemos Filho