15/02/2012
Eduardo Pinto: professor Doutor!
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Professor da UFRN e mito quando o tema é 'intelectualidade', Eduardo Pinto acaba de se tornar Doutor em Hiper Realismo.
Tese defendida no Departamento de Ciências Sociais da própria UFRN.
Eduardo, meu professor na faculdade de Jornalismo, sempre foi, aos meus olhos, aquele professor que estava sempre um degrau acima do meu, e que eu sabia que jamais conseguiria alcançá-lo.
Enquanto eu me interessava pelos acontecimentos, furos jornalísticos, e tentava estimular o faro para as notícias, ele falava em semiótica e movimentos intelectuais...
Chegou ao Hiper Realismo. Doutor no assunto. E eu daqui, correndo atrás da notícia, o vejo mais degraus acima que o meu...mas agora, em vez de tentar alcançá-lo, bato palmas.
E enquanto eu aplaudo daqui, o jornalista querido Paulinho Araújo, sempre ali, na sua intelectualidade, um degrau ao lado do professor, escreve declaração de amor ao mestre.
Declaração que, em tempos de professores pouco exigentes, serve de exemplo para os alunos que hoje, em sua maioria, olham para os mestres como meros fornecedores...e se travestem de clientes para frequentar as salas de aula.
O Blog publica a declaração do aluno, ao mestre:
Ao Mestre (agora Doutor!), com carinho!
Na noite de segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012, o quadro de professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi enriquecido por mais um mestre com o título de “Doutor”. Trata-se de Eduardo Pinto da Silva, um “pensador” de carne e osso que poderia muito bem ter sido a inspiração real para o personagem de Robin Williams no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”. Quem assistiu, sabe da capacidade de inspirar alunos que Jonh Keating tem, na película de Peter Weir, nomeadamente a de fazer os alunos da tradiconal Welton Academy pensarem por si mesmos – o que cria um choque com a direção ortodoxa da escola.
Pois bem…
Responsável não só pela formação – mas principalmente pela “descontrução” – do pensamento intelectual e do espírito crítico de diversas gerações de jornalistas potiguares, Eduardo Pinto, que leciona Semiótica nos cursos de Jornalismo e Publicidade, é, sem sombra de dúvidas hoje – agora com o aval da Academia – uma das maiores autoridades em leitura e interpretação de imagens do Brasil. Não é pouca coisa, numa era onde não é mais nem a reprodutibilidade da obra de arte que se discute, mas o valor ético de fotografias, imagens em movimento, infografias, vloggers, postagens, tuitadas e outras formas de comunicação que utilizamos hoje como jornalistas e também como consumidores de notícias.
Sua tese de doutorado sobre o Hiper Rrealismo (movimento artístico surgido nos EUA em que as pinturas se aproximam demasiadamente das fotografias, sendo quase impossível dizer o que é uma e outra) é, antes de mais nada, um grande trabalho de curadoria de imagens que nós somos, minimamente (para usar uma expressão dele que foi transformada em apelido nos corredores do setor II), obrigados a conhecer. A tese é deliciosa de se ler e de se admirar e foi aprovada com louvor por uma banca rigorosa formada por professores da UFRN, da PUC-SP e da UFPB exatamente porque, à maneira da “Sociedade dos Poetas Mortos”, quebra com os chatíssimos e arrastados paradigmas acadêmicos de interpretar as coisas. E nos apresenta, de forma clara e cristalina, um delicioso passeio pelo hiper real.
Sou suspeito para falar da admiração que tenho por este professor, assim como muitos colegas nesta cidade.
Eduardo para além de tudo isso, foi responsável, junto com outros colegas
professores, pelo não fechamento do Curso de Jornalismo em meados dos anos 2000, quando tudo caminhava para o caos e o MEC nos dava o vergonhoso conceito “E”, paulatinamente. A muito custo, inclusive do desgaste da própria saúde, ele também foi o mentor e arquiteto do laboratório de Rádio e TV que hoje funciona como escola em anexo à TV Universitária – emissora pioneira e responsável por gerações e gerações de profissioinais que hoje vemos brilhar na frente e por trás das câmeras no estado e no país. Falta uma placa dizendo isto no prédio.
Na sua modéstia e sabedoria de ex-seminarista, coroou uma carreira no magistério universitário com um título de Doutor, conquistado a duras penas, combinando a pesquisa com as aulas, mas faz disso só um detalhe na sua trajetória de provocador.
Para ele, vale mais uma boa conversa do que uma nota de rodapé.
Quantas saudades das suas aulas, com passeios deliciosos pelos “Bosques da Ficção” de Umberto Eco, pelos “Signos” de Pierce”, as demonstrações belas de plasticidade numa época em que ainda usávamos retoprojetores (hoje há pseudo-doutores que não vivem sem um iPad e mesmo assim não fazem um “ó” com uma quenga de coco), sonhávamos com uma profissão cheia de valores marxistas (ó, cruel Mercado!) e, sim, íamos fazer revoluções, como a implantação da TV Digital que vai se aproximando e será obrigatória em 2016. Mas, que poucos sabem do que se trata.
Nada mais é do que a hiper realidade.
Figura de proa entre os realizadores da televisão também em Portugal e na Espanha, Eduardo Pinto pôs seus dedinhos de editor num documentário magnífico que mostra a Revolução dos Cravos em 1974, reprisado pela RTP a cada 21 de Abril, dada magna dos portugueses. Como jornalista que também é, tentou cobriu, no mesmo ano, a saída em massa dos portugueses de Angola, mas o avião em que planejava aterrissar em Luanda foi recebido à bala e teve que retornar à Lisboa.
Contou-me esta história entre lágrimas, quando lhe falei que “só quem sabe onde é Luanda saberá lhe dar valor”, como diz a música de Gilberto Gil.
Na terra do poeta García Lorca, foi amigo de ninguém menos do que o pintor Antonio Lopes. Poucos alunos ficam sabendo disso, dado a sua modéstia em sala de aula. Só essas vivências, costumo pensar, valeriam por uma tese daquelas de volume maior do que o romance Guerra e Paz, de Tostói, de que a Academia tanto gosta, mas que geralmente são “mentiras estéticas”, pura e simplesmente. Hoje ele nos brinda com a explicação do hiper realismo.
Laureado com o título máximo da carreira acadêmica, prepara sua retirada para a planície por meio da aposentadoria, levando também na bagagem a experiência de ter sido presidente da Capitania das Artes, sob a gestão da então prefeita Wilma de Faria, talvez o período em que aquele fundação atingiu seu esplendor produtivo. Foi Eduardo quem redigiu as bases da Lei de Cultura Djalma Maranhão e foi Eduardo quem trouxe para Natal as exposições mais relevantes que aquelas galerias já abrigaram, especialmente a retrospectiva do artista plástico potiguar Jomar Jackson.
Tempos gloriosos. Espero, encarecidamente, que a UFRN onde o conhecemos, preste-lhe uma justa homenagem nesse momento tão importante – e difícil de ser atravessado – por qualquer profissional, principalmente um professor como Eduardo Pinto.
Obrigado, professor, você nos ensinou muito! Como na bela foto da aluna Adriana Silveira, é hora de abrir um vinho e brindar essa conquista!
Do aluno,
Paulo Araújo
[caption id="attachment_37344" align="aligncenter" width="200" caption="Doutor Eduardo Pinto (Foto: Drika Silveira)"][/caption]