01/06/2011
A covardia dos anônimos, por Rubens Lemos
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Do www.rubenslemos.com.br reproduzo o belo texto de Rubinho Lemos.
Que fala por mim...pois assino embaixo..
FAKE, MODERNA COVARDIA
Nas tragédias deliciosas de Nelson Rodrigues, havia o bilhete ardiloso e a carta anônima. Irmãs invejosas criavam e denunciavam adultérios de belas e dóceis mulheres a namorados que se jogavam sob trens ou lotações, como eram chamados os ônibus de antigamente. As frustradas triunfavam silenciosas e sua caligrafia sintetizava o fel da perfeição.
O fantasma-pornográfico, anjo-cruel e genial com uma máquina Olivetti, também escreveu histórias sobre telefonemas misteriosos. Casamentos marcados eram desfeitos quando Ofélia ou Dagmar, dentre tantas personagens, avisava, lenço ao bocal do telefone, que Obdulinho, o noivo, estava de sirigaita nova, mantida com quitinete e Simca Chambord. Luíza, a noiva de enxoval pronto, da pureza literária em vários contos de Nelson Rodrigues, tomava Formicida Tatu, encerrando sua dor pranteada pelo caluniado. A autora do telefonema ria, sorrateira.
O anonimato para o mal é o veneno das serpentes de moral invertebrada. Modernizou-se, como tudo na vida. Se há carros, casas, prédios, aparelhos de som e televisão, nomes diferentes, há novos métodos para os que trouxeram na formação, a deformação de caráter como estampa e figurino.
O bina telefônico, o identificador de chamadas, amenizou a criatividade das candinhas de catálogo. Hoje, trabalham usando orelhões facilmente detectados por modernos equipamentos policiais. Descobre-se tudo e o trote, que já separou marido de mulher, causou suicídios e infortúnios, deixou de ser um punhal tão perfurante.
Surgiu o e-mail, que é a carta eletrônica. Rápida e eficiente. Nelson Rodrigues já estava morto há quase duas décadas quando a internet chegou para atiçar egos e democratizar a mediocridade. Começou a onda de e-mails anônimos.
O sujeito comprava um carro e o invejoso escrevia para o jornal dizendo que era fruto de roubo. Com nome falso, porque fake quer dizer falso. Em inglês. O cabloco arrumava uma namorada bonita e o frustrado, que não descolava ninguém, nem o pior bagulho, a acusava em longas listas de ser prostituta. Tudo escondido.
O falso institucionalizado, que utilizava o e-mail já começou a levar bordoadas. A tecnologia, que parece antipatizar os covardes cibernéticos, criou o descobridor de IPs, na linguagem da informática, o DNA do computador de onde saem as podridões.
A Justiça, se for acionada, pode revelar a máscara dos apócrifos e o agredido, empanturrá-lo de processos. A pena é que deveria ser forte, pois a emboscada contra a honra dói no atingido e em sua família.
O fake, em sua marcha dionisíaca, descobriu o twitter. A febre que vicia inteligentes e asnos. Mulheres interessantes e pueris. Gente digna e pústulas. São criados perfis falsos que achacam, agridem e insultam quem quer não seja simpático a(ao) sociopata capaz de utilizar palavrões e caluniar a vida alheia.
Observo homens e mulheres, pais e mães de família alvejados pelas costas. Pelas costas sim. Mesmo no twitter, onde todo mundo se vê numa foto apelidada de avatar, joga-se baixo como quem atira por trás, como os lacaios a soldo.
Levei bordoada de fake. Não respondi. Dei-lhe um bloqueio, que é uma espécie de bordoada virtual. Fake, além de falso, é burro. Seu conteúdo é a maldade do seu rosto que se apresenta em público. No estilo da escrita, na expressão literal do desprezo.
Na Inglaterra, um político multiplicava sua face oculta em vários nomes mentirosos, agredindo seus adversários. Foi descoberto. Bateu num inimigo a milhas de distância, na Califórnia, onde o Tribunal irá julgá-lo. Que seja condenado e o exemplo seguido no Brasil.
O fake é a face pantanosa do subconsciente criminoso. O seu rosto é uma máscara, sua vida é uma farsa, sua infelicidade é um deserto, seu grau de perversidade é o refúgio do seu próprio fracasso. Há pessoas que não podem se olhar no espelho. O fake é o seu clone físico e doentio.
Do Blog - Palmas. Somente palmas para meu amigo Rubens Lemos. Em carne e osso.