04/06/2010
Rubens Lemos Filho: "Vamos banir os picaretas da imprensa"
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Recém-nomeado assessor de imprensa da Assembléia Legislativa, o ex-secretário de Comunicação do governo, Rubens Lemos Filho, é o entrevistado da revista Palumbo, que está nas bancas.
Rubinho fala dos tempos da ditadura, onde o pai Rubens Lemos foi personagem dessa história...
Fala do jornalismo, da tecnologia na comunicação, de sua trajetória...de política.
A entrevista ficou tão boa, leve, que eu li...e reproduzo aqui...
Na íntegra:
A PAIXÃO ELEVADA À ÚLTIMA POTÊNCIA
Entrevista - RUBENS LEMOS FILHO
Por Albimar Furtado, Osair Vasconcelos e Paulo Tarcísio Cavalcanti
Filho de Rubens Lemos, jornalista e militante político, Rubens Lemos Rubens Filho, ou Rubinho, herdou do pai não apenas o talento jornalístico, mas igualmente o ardor com que faz de tudo um exercício de paixão. Nesta entrevista, ele mostra como e porque não Palumbo -
Palumbo - Vamos organizar por etapas, começando por sua ligação ao jornalismo. Como foi o começo?
Rubens Lemos - É lógico que o meu primeiro contato com o jornal foi pelas mãos do meu pai. Entre 1971, quando eu tinha um ano de idade e
voltei do Chile com minha mãe (ele era exilado político), e 1973, eu não vi meu pai. Fiquei quase três anos sem vê-lo. Então, quando ele voltou, me liguei muito a ele. Agnelo Alves lhe deu uma oportunidade na Tribuna e na Rádio Cabugi. E eu queria acompanhá-lo em quase tudo. É uma coisa que eu não sei como é que se explica, psicologicamente, mas o certo é que eu queria estar sempre perto. Em 1976, ele era comentarista da Rádio Cabugi (hoje Globo). Ia pra rádio ao meio-dia e, na época, também era editor de esportes da Tribuna (como opositor da ditadura militar, não podia falar sobre política). Então eu ia com ele para a redação da Tribuna (que funcionava onde hoje são os classificados, na Av. Tavares de Lira). Woden Madruga era o editor-geral, Moacir Oliveira era o diagramador (me lembro demais). Ele saia da resenha a uma hora, saia pra almoçar e voltava às três horas pra redação. Então eu ficava, praticamente, o dia todo lá. Eu era muito curioso, ficava mexendo com um e com outro.
Palumbo - Onde é que vocês moravam?
Rubens Lemos - Moramos em três casas no Tirol durante os anos 70. Em 76, morávamos na Rua Pitimbu, Cidade Alta, perto da Cosern. Quem era nosso vi¬zinho era Carlos Alberto, que depois foi senador e, na época, fazia um programa de muito sucesso na Rádio Cabugi. Ele era deputado estadual e fazia o programa de manhã, antes da Resenha. Éramos vizinhos mesmo – casa com casa. Então, eu chegava da Tribuna (na época a impressão era muito rudimentar), pegava uma folha de papel A4 e ia copiando. Lá no alto eu botava “Tribuna do Norte”, desenhava aquele simbolozinho parecido com o sol e ia colocando “as minhas” notícias. Por exemplo: eu colocava na manchete o que tinha acontecido na aula: “Professora reclama de Fulano de Tal” e, em seguida a notícia: “Professora fulana de tal reclamou do aluno tal”... “Hoje no Globinho (que era um programa infantil que tinha) passou Durango Kid matando não sei quem e tal”... Eu fazia tudo à mão, escrevendo de caneta. As fotos, ou eu desenhava ou recortava e colava para ilustrar as notícias. Por exemplo: se eu falava de um desenho animado, eu ia lá, recortava na revista e colava. Comecei assim. Tanto que esse trabalho... esse trabalho, não, essa brincadeira, papai levou lá pra Tribuna e Amarilis Furtado, irmã de Albimar, que era a gerente financeira do jornal e queria muito bem a papai e a nós todos, ficou com esses originais. Não sei aonde ela botou. Eu gostava muito de ouvir um programa que marcou época nos anos 70, aqui em Natal. Era a “Patrulha da Cidade”, na Rádio Cabugi. Esse programa apresentava o noticiário policial de uma forma teatralizada. Ainda era um resgate do rádio-teatro que havia antigamente. E quem comandava esse programa era Assis de Paula, que era muito amigo de papai. Assis de Paula foi um dos caras que mais entendeu de rádio aqui em Natal. Ele era locutor, repórter, entendia da parte técnica, de som... etc. E como papai disse a Assis que eu sempre o escutava, ele sempre mandava um abraço pra mim. Então, eu também comecei a usar no meu jornal o noticiá¬rio do programa: “Deu na Patrulha da Cidade... Assis de Paula disse isso: tal e tal”.
Palumbo - A Natal desse tempo era muito diferente da Natal de hoje?
Rubens Lemos - Natal era uma cidade que girava da Ribeira até o Alecrim naquela época. Ir à Zona Sul da cidade era uma viagem... muito distante. O estádio é que era o grande marco. O Centro Administrativo tinha sido inaugurado há pouco. Os servidores iam de ônibus. Minha avó era servidora, mamãe também. Elas iam de ônibus fretado pelo governo. Não tinha linhas regulares para o Centro Administrativo. Então, Natal girava em torno daquilo e as redações eram muito pequenas. Muito minúsculas. Eu me lembro que havia a editoria de política... editoria de polícia... e muitas colunas. Tinha a coluna social de J. Epifânio... E eu era muito chato... ficava perguntando as coisas, inclusive aos fotógrafos. Quem era o fotógrafo da Tribuna na época era Anderson Lino. O laboratorista era Anjinho. Eu aperreava muito Anjinho. Não sei nem a razão; porque eu nunca gostei e nem jamais soube fotografar.
Palumbo - Esse seu primeiro contato, ainda menino, com uma empresa jornalística, durou mais ou menos quanto tempo?
Rubens Lemos - Até 1978. Nesse ano papai teve que se desligar da Rádio Cabugi e da Tribuna porque, na época, houve a aliança do MDB com a Arena em favor da candidatura de Jessé Freire ao Senado – a chamada “Paz Pública” de 1978. Então, papai como sempre colocava a política acima de tudo, até acima da profissão (não que eu esteja dizendo que esse era um defeito dele: era uma característica dele, sempre priorizar o seu idealismo). Então, ele era do MDB “autêntico” – ele, Roberto Furtado, o MDB de Agenor Maria que era senador, o MDB de Odilon Ribeiro Coutinho, de Zé Daniel Diniz... então, ele teve que sair da Tribuna e da rádio e foi trabalhar na “Sertaneja”, que era a maior cadeia de lojas aqui do Estado e pertencia a Radir Pereira, o candidato a senador. Então, ele criou uma agência de propaganda lá dentro (papai também era publicitário). Naquela época, vigia a chamada Lei Falcão. Não tinha propaganda eleitoral na TV. Era só a cara do candidato com o seu currículo. Os jornais impressos era que tinham uma força muito grande porque neles você jogava as matérias que lhe interessavam. Compravam espaço para atacar... era uma coisa muito radical. E aquilo de mais importante que papai fazia, ele escrevia em casa. A campanha foi feita por ele (a parte de mídia); quem fazia os desenhos, as artes dos anúncios era um baiano muito talentoso chamado Gilson Nascimento, que vive aqui em Natal hoje. Quem também integrava a equipe de papai era Ubirajara Macedo. Eles trabalhavam lá em casa. Papai improvisou uma sala lá em casa, duas máquinas de escrever e ficavam os dois – um de frente por outro. Eu me lembro demais também de uma figura que veio pra cá pra fazer uma matéria pra “Veja” sobre a campanha do Rio Grande do Norte. Foi Moacir Japiassu, um dos maiores jornalistas deste país, fundador da revista “Imprensa”, escritor, criador daquele personagem Janistraquis, que apontava os maiores erros do jornalismo na Revista Imprensa. Lembro-me demais daquela figura imensa, parecendo um polonês, todo avermelhado e eu a perguntar também – o que ele estava fazendo ali. Então, passou esse período, Radir perdeu a eleição no Estado (ganhou em Natal. Foi a primeira derrota de Aluízio Alves em Natal).
Palumbo - E aí?
Rubens Lemos - Depois disso fomos morar em Mossoró. Papai trabalhava em “O Mossoroense” e prestava assessoria para um intelectual muito conceituado e polêmico da cidade, chamado Rafael Negreiros. Isso em 1979. No Colégio eu sempre me destacava em redação. Onde eu me saía melhor era em português, redação e história. Passamos um ano em Mossoró, fomos morar em Recife e só voltei ao contato com a redação quando nós fomos morar em Cuiabá, alguns anos depois. Aí eu já era adolescente, fazia o segundo grau. Estava com 17 anos. Fomos morar em Cuiabá porque papai era secretário de imprensa de Dante de Oliveira. Depois, saiu da Secretaria de Imprensa e foi pra campanha do candidato a governador Carlos Bezerra. Isso já em 1986. O governador ganhou e o contratou para o seu jornal em Rondonópolis, a segunda cidade de Mato Grosso. Eu, mamãe e meus irmãos passávamos a semana inteira em Cuiabá e ele em Rondonópolis. O jornal não tinha página de esportes. Então, eu me propus a fazer uma coluna de esportes. Ele me disse: “Você não pode assinar porque você não é jornalista. Você vai fazendo a coluna que a gente publica com outro nome. Escolha um nome aí”. Eu tinha um primo, que tinha acabado de nascer, aqui em Natal, de quem eu gostava muito – Rafael Marinho. Aí botei: Rafael Marinho. O nome da coluna era “Toque curto”. Então, em 1987, comecei a escrever sobre futebol nessa coluna e assim passei o ano de 87 quase inteiro. As pessoas gostavam, mandavam carta, sugeriam. Era mais sobre o futebol nacional e o futebol de Cuiabá, que eu freqüentava o estádio, morava perto, inclusive.
Palumbo - E o retorno pra Natal, quando ocorreu?
Rubens Lemos - Em 1988. Papai ficou porque voltou a ser secretário de Dante, na Prefeitura de Cuiabá. Na época, fui fazer pré-vestibular, mas senti que estava precisando trabalhar. Vivíamos com di¬ficuldade. Minha mãe era funcionária pública; minha avó também. As pessoas da minha geração tinham acesso a coisas que eu não tinha. Por exemplo: eu nunca gostei de ir a festas, mas até pra ir a um jogo de futebol, precisava de dinheiro e tinha que pedir a mamãe, a vovó... Aí decidi e numa conversa com papai pelo telefone lhe disse: “Papai, eu preciso trabalhar”. Ele, também, aqui e acolá, atrasava a nossa mesada. “De que?”- ele me perguntou. “De qualquer coisa”. Tinha até um contraparente nosso, dono de empresa aqui, muito próspero, mas ele me queria como vendedor. Mas eu nunca aprendi a vender nada, não fui e papai então me disse que ia dar um telefonema e depois me comunicaria. Aí, ele telefonou pra Woden, na Tribuna. E Woden falou com Antônio Melo. Isso em março de 1988. Papai me ligou dizendo que Woden e Antônio Melo estavam me esperando na Tribuna. Então, no dia 8 de abril de 1988, eu peguei o ônibus próximo à casa de minha mãe e desci em frente ao ITEP. Fiquei sentado naquela escadaria da Tribuna esperando que eles chegassem. Woden chegava da Fundação José Augusto por volta das quatro e meia, cinco horas. Quando ele chegou eu me apresentei e ele me disse pra aguardar enquanto Antônio Melo chegava. Assim que Melo chegou, eles mandaram me chamar. Eu subi, conversei com Antônio Melo e ele foi logo dizendo, de chofre: “Eu vou fazer com você o que seu pai um dia fez comigo. Seu pai era chefe de reportagem do Diário de Natal, eu fui pedir lá uma oportunidade e ele me jogou logo no fogo e me disse: “Eu quero ver um texto seu, você vai fazer uma cobertura em determinado evento na cidade. Eu fui, ele gostou e eu fiquei. Então, eu vou fazer com você a mesma coisa.” Ele me perguntou o que eu fazia, eu falei que gostava muito de esporte e aí ele chamou Madson Fernandes e disse: “Madson, esse rapaz vai trabalhar aqui, mas se tiver um texto bom. O que é que vai ter hoje à noite? Naquela época, as redações ficavam abertas até mais tarde. O jornal não fechava às 18 horas não... Dia de jogo de noite, no outro dia saía matéria de página inteira do jogo. E, naquela semana estava sendo disputada aqui a Taça Brasil de Futsal, e naquele dia tinha o jogo América x CRB (de Alagoas). Era a segunda rodada. Eu vinha acompanhando tudo. Eu já era tarado por futsal. Já vivia no Palácio dos Esportes como eu vivia no Castelão. E Melo perguntou: “E como é que está?” Eu disse: O América briga com a Brahma da Bahia pra ver quem fica em primeiro. E ele disse: “Então você vai cobrir este jogo”. E eu fui. Madson me avisou que ia deixar Verailton Silva para editar a matéria e que o meu texto devia ter 22 linhas. Eu fui, anotei tudo... o América venceu esse jogo por 6x1, quatro gols de Silvio, um grande jogador de futebol de salão daqui. Voltei com a matéria, escrevi... e Madson gostou da qualidade do texto e perguntou se eu já havia trabalhado em jornal. Eu disse que não e que estava procurando conseguir o primeiro emprego. Então ele ligou pra Antônio Melo e lhe disse que o texto estava muito bom. “Sem adjetivação, normal, deu a classificação, a próxima rodada...” E Melo disse: “Então, aproveita”. Eu comecei a fazer esporte amador na Tribuna. Naquela época a Tribuna levava de goleada do Diário e Melo assumira o comando exatamente para fazer uma das muitas reformas editoriais pelas quais a Tribuna passou. Levou gente nova e eu terminei nesse bolo. Fiquei lá na editoria de es¬porte como repórter. A equipe era: Madson, como editor; Justino Neto (que também trabalhava na rádio), Verailton Silva, eu e Everaldo Lopes, que fazia o Cartão Amarelo. Tinha chegado no mesmo dia que eu. Isso é uma coisa que me emociona muito. Eu cheguei no mesmo dia que Everaldo Lopes e o saudoso Edmar Viana chegaram na Tribuna. Só que eles chegaram contratados como estrelas e eu cheguei para tentar uma chance. E aí, fiquei.
Palumbo - Você ficou sempre ligado ao esporte amador?
Rubens Lemos - Não. Um dia, Justino, que cobria o ABC, adoece. Eu fui então cobrir o treino do ABC e ao invés de fazer uma matéria com o treino – O coletivo terminou 3x2 com gols de fulano e beltrano...Eu fiz uma matéria mais ampla com uns três boxes com alguns perfis de jogadores. Quan¬do viu o material, Antônio Melo mandou que eu fosse efetivado como setorista, recomendando, porém, que eu (que ele sabia que era abecedista) também fosse cobrir o América. Eu disse: Não tem problema. Aí ficamos eu e Verailton no revezamento – Um dia eu cobria o ABC e ele o América; no outro dia, eu ia para o América e ele pra o ABC. Era uma forma de evitar que houvesse aquilo que havia no rádio. Muitas vezes os repórteres assumiam mais a condição de animadores de torcida do que de repórteres. Então, nós ficamos nos revezando. Nisso, chegou para assumir a direção de redação, o falecido Alfredo Lobo, que Melo trouxe a peso de ouro pra comandar a nova Tribuna. E Alfredo Lobo pegou logo uma briga com Roberto Guedes, tirou Roberto da Tribuna e eu fiquei preocupado. Eu digo: “Esse cara não me conhece...” Ele era altamente grosseiro com a redação. Era talentoso, mas estúpido com os editores. Chegava a ser cruel. Ele tratava Natal como se fosse um quintal. “Aqui só tem incompetente..”- gritava mesmo. “E eu pensava: se esse cara vier me gritar, não vai dar certo... Eu não vou aceitar levar grito de um cara que eu não conheço. Naquela época eu era novo, mas também nunca levei desaforo pra casa. Um dia ele me chamou e puxou conversa sobre a Eurocopa, que estava pra começar. E me encarregou então de fazer a cobertura, adiantando, inclusive, que achava o meu texto bom. Fiz, então a Eurocopa inteira. Na realidade, Lobo assumira a redação com plenos poderes e prerrogativas para conduzir a transformação da Tribuna pra deixar de ser um panfleto político e ser efetivamente um jornal (o que aliás, Antônio Melo já vinha conseguindo, inclusive assumindo a posição de superintendente do Sistema, passando a comandar o jornalismo da TV, da rádio e do jornal). Então, uma bela tarde, Agnelo Alves chegou e disse que tinha uma notícia importante pra dar e que, politicamente, era interessante que essa notícia fosse a manchete do jornal. Aluízio Alves era Ministro da Administração do Presidente Sarney. O poderio político dos Alves era muito grande, embora tivesse acabado de perder a eleição de prefeito de Natal para Wilma. Mesmo assim, eles estavam poderosos – tinham o Governo do Estado com Geraldo Melo e Aluízio, ministro. Então, Agnelo chegou e foi conversar com Lobo no “aquário” (designação dada à sala do diretor de redação na época) sobre a tal matéria. Quem estava do lado de fora via Lobo gesticular afobado e Agnelo sem dar um pio. Agnelo saiu, dando um sorriso maroto pra redação. No outro dia, tava a manchete que Agnelo queria na primeira página. Contam que após fechado o jornal, a manchete foi substituída de madrugada. Lobo disse que não admitia passarem por cima da autoridade dele, criou-se aquele clima, muitas conversas, Antônio Melo, doutor José Gobat, doutor Aluízio, que estava em Brasília, também foi acionado pelo telefone, mas Lobo não transigia e colocou: “Ou Agnelo, ou eu”. Eu sei que não vi mais Lobo naquela redação. No outro dia, quem assumiu a editoria do jornal foi Paulo Tarcísio. Isso foi mais ou menos no final de 1988, dezembro de 1988.
Palumbo - Foi nessa época que você trocou a editoria de esporte pela editoria de polícia?
Rubens Lemos - É. Um dia Paulo me chamou e me provocou: “Você vai querer ficar o tempo todo como repórter de esporte... vamos tentar a reportagem de cidade...” E eu fui. Fiz boas matérias especiais, muitas deram manchete, inclusive aos domingos... Passei então um tempo em “Cidade” e, depois Paulo me chamou e disse que estava pensando em dar uma nova dimensão à editoria de polícia. Estava precisando de um repórter e editor. Sua idéia era fugir do padrão de BO (Boletim de Ocorrência) entre polícia e jornal. Uma cobertura mais humanizada, uma coisa mais profunda, uma matéria de maior densidade e eu fiquei entusiasmado porque ele colocou Carlos Peixoto como editor. Adriano de Sousa era o chefe de reportagem. Eu topei. Muitos colegas se surpreenderam: “Como é que você aceita isso. Polícia é decadência...” Pois é de onde eu tenho as melhores recordações da minha vida como jornalista. Foi onde eu conheci melhor a vida. Porque nós fizemos coberturas assim extraordinárias... Como o assalto ao Banco do Brasil em 90, aquele assalto bilionário que houve na agência central do Banco do Brasil; assalto ao Banco do Nordeste do Brasil – nós fizemos a cobertura total... assalto seguido de seqüestro em Assu... Quando tinha uma cobertura dessas, a redação inteira era mobilizada. Uma parte foi pra Assu, outra ficou em Natal, outra acompanhava a família do seqüestrador que fugiu pela porta de emergência do avião do Estado. Então, foi realizando esse trabalho que eu comecei a enxergar melhor a vida. Quando eu ia fazer a cobertura de um crime, não fazia simplesmente chegar ao ITEP e pegar o nome do cara. Eu ia levantar a história do crime. Foi por esse tempo que eu andei pelas partes de Natal que eu não conhecia. Isso me deu uma visão de um mundo bem diferente. Inclusive eu escrevi uma crônica sobre isso em meu blog, há um ano, sobre uma cobertura que fiz juntamente com Ana Silva, fotógrafa. Foram dois momentos que eu tive com Ana Silva que foram muito marcantes pra mim.
Palumbo - Você poderia descrevê-los?
Rubens Lemos - Um foi na cobertura de uma blitz que estava sendo feita pela Delegacia de Roubos e Furtos. Nós íamos numa Kombi e houve um tiroteio. Nós estávamos chegando numa área depois conhecida como “Favela do Fio”. Quando entramos, ouvimos os tiros. Por instinto, eu mergulhei debaixo do carro da Tribuna e Ana fotografando. Daí a pouco eles trouxeram um corpo. Como eu era muito novo, um policial me chamou de forma debochada: venha aqui ver, você que gosta de defender bandido. Eu lhe respondi: Eu não gosto de defender bandido, não. Eu dou a notícia. Não estou aqui pra defender nem polícia nem bandido. E fui olhar o cara para fazer a matéria... O rapaz devia ter mais do que eu uns dois anos. Naquela época eu estava com 19, 20 anos. Eu digo: “Porra, o cara tá morto”. Inclusive ele estava com uma escopeta e reagira à abordagem dos policiais. Aí, o policial me perguntou: “E se fosse eu que estivesse aí? Não tinha ninguém dos direitos humanos pra consolar minha família”. Esse foi um episódio marcante. E o que o policial disse é uma verdade absoluta. A hipocrisia domina esse tipo de abordagem jornalística. Um outro momento foi uma tortura que a gente presenciou na Delegacia das Quintas. Aquele era um famoso dia sem pauta. Dia em que você não consegue nada na rua. Estávamos num fusquinha que servia à rádio e à Tribuna. Daniel era o motorista, Inaldo Farias, falecido, trabalhava pra rádio, eu e Aninha, pela Tribuna. Rodamos de delegacia em delegacia. Não tinha nada que rendesse. Absolutamente nada. Chegamos por volta das 4h30 na 7ª Delegacia, em frente ao Hospital Dr. Luiz Antônio, na Avenida Mário Negócio. Chegamos lá e começamos a conversar com o escrivão. O delegado era Darcy Carlos. Era uma equipe muito temida aqui em Natal. De repente, começamos a escutar gritos vindos de fora pra dentro da delegacia. Começou uma pancadaria. Vinham dois agentes. Um, quando nos viu, recuou. Ele parou na hora. Mas, o outro, continuou com força. Um cara imenso, que tinha sido expulso da PM por desordem (não sei como é que um cara daquele entrou na Polícia Civil). Seu nome era Pelino Pedro. Todo mundo tinha medo desse cara na Delegacia, acho que até o delegado. Esse cara pegou o acusado e começou a bater. Bateu, bateu assim uns cinco minutos e Ana não conseguiu pegar um ângulo. Ele bateu tanto que a mão dele inchou. Então, ele mandou buscar gelo na geladeira da Delegacia, fez uma compressa, passou em cima da mão (e o cara estirado lá), então ele puxou o cara pelo cabelo com a outra mão e deu de cima pra baixo. Existe essa foto no arquivo da Tribuna. Ganhou prêmio. Ana fez a foto exatamente no momento em que ele está com a expressão crispada de fúria e o cara num pânico total. Ana bateu a foto nesse momento. Quando ele percebeu, ameaçou: “Eu vou tomar a máquina”. Eu respondi, tremendo por dentro: “Não, vai não. E se você bater na gente é pior”. O delegado não estava nesse dia e o chefe de investigação procurou contemporizar. “Não, vamos deixar isso pra lá. Isso é vagabundo... Eu falei: “Eu também não sou a favor de bandido, quero mais é que eles se torem. Mas sem espancamento. Quando vocês quiserem fazer, não façam na frente da imprensa, não porra! Eu não sou policial, eu sou repórter. Sou jornalista. Ela é repórter fotográfica. O que vocês estão fazendo é a mesma coisa de um assaltante ficar esfregando a arma na sua cara. Não, isso aqui vai ser publicado”. Ele disse: “Eu duvido muito”. Quando ele disse “eu duvido muito” fiquei calado e fui pra redação. Chegando na redação fui falar com o editor que era Edilson Braga (que tinha substituído Paulo). “Braga, tem essa foto. A foto, na vertical, ia da cabeça da página à ponta. Uma foto belíssima, do ponto de vista jornalístico. Essa foto existe até hoje. Aí ele disse: “Puta merda!, a foto tem que ir pra primeira página”. Ai eu comecei a fazer a matéria: “O agente tarará-tarará, espancou....” contando a história. Depois é que fui entender porque é que o agente disse que a matéria não ia sair. Braga pegou a fotografia... mas, a notícia havia corrido da delegacia até chegar ao gabinete do secretário. E o governo era aliado do grupo proprietário do jornal. O governador era Geraldo Melo (era o último ano do governo dele) e o secretário de segurança era o saudoso Coronel Veiga. Ao saber do ocorrido, o governo procurou tomar satisfações com o jornal. Braga segurou o compromisso do jornal com a informação, aceitando, apenas não publicar a foto na primeira página. Mas, a foto saiu e foi publicada na página 7, se não me engano. E a partir daí, a gente passou a ser ameaçado por esse agente. E eu saí da editoria de polícia e fui para a editoria de política.
Palumbo - No jornalismo você tem essa experiência repórter-fonte. Há pouco você esteve numa experiência inversa, em que você passou a ser a própria fonte, na condição de secretário de Comunicação do Governo do Estado. Como é que você vê essa relação de fonte com repórter?
Rubens Lemos - Eu acho que ela deve se desenvolver num plano de confiança de mão dupla. Se eu quero ter uma boa informação e quero dar – Isso também depende muito do talento de quem recebe a informação e da maneira também de quem passa. Como você coloca a informação e como você quer que ela saia. Depende muito da capacidade de percepção da pessoa. Porque eu já vi casos aqui em que eu, realmente, já tive fontes muito boas; tive colegas muito corretos comigo, que passaram as informações fielmente, mas houve casos em que eu dava a informação e a pessoa colocava lá na coluna: “Uma fonte... uma pessoa muito próxima à governadora Wilma de Faria disse isso, isso e isso”. Qual era o entendimento que as pessoas iam ter? Que eu era a fonte!. Aí não, meu amigo! Tá errado. Porque nenhuma notícia que passei como informação privilegiada, nenhuma foi desmentida em sete anos de trabalho. Eu acho que deve haver uma relação de respeito. O agente público tem que respeitar o repórter; tem que respeitar o fato; e o repórter tem que respeitar o agente público sem que o fato seja prejudicado. Eu acho que o mais importante nessa relação é a notícia. E a confiança.
Palumbo - Isso na relação secretário (que é uma pessoa) x repórter (que também é uma pessoa). E na relação com os veículos? Você como secretário de Comunicação sentiu a existência de órgão independente, órgão parcial, órgão menos parcial, órgão independente, órgão mais ou menos independente?
Rubens Lemos - Não... Eu gosto de citar exemplos. Antes de tomar posse, a governadora Wilma foi acusada de ter no exterior, só de rendimentos, numa conta num banco suíço, 500 mil dólares de rendimentos. Isso em 2002. Ela tinha acabado de ganhar a eleição. A Globo botou matéria no Fantástico tal e tal. O cara (o acusador) era um falsário conhecidíssimo; era um estelionatário que tinha, inclusive, causado punições a policiais federais sérios, que foram citados como agenciadores de doleiros; foi provado por um técnico de informática que aquilo era uma farsa – aquilo era um simulador de contas. Você chegava lá num site, colocava lá um nome (digamos: fulano de tal) aí colocava: Rendimentos. Quanto você quer? Quero 3 milhões de dólares. Aí você colocava 3 milhões de dólares, aparecia lá o extrato, você imprimia aquilo ali e aquilo ali virou peça de acusação. Isso foi em dezembro de 2002. Essa farsa ganhou a capa da Revista “Isto é”, citando não apenas a governadora Wilma, como também vários outros políticos, como o então deputado federal Eduardo Campos (PSB-PE) e o também recém-eleito governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima. A farsa foi desmascarada. Quando isso ocorreu, a governadora deu entrada num processo de inversão de verificação, para que fosse revertida a culpa, ou seja: para saber quem foi que induziu aquele falsário a fazer aquela trambicagem. Porque ele não ia escolher o nome da governadora Wilma do nada. Ele não a conhecia. Era um cara de Recife, com duzentas e tantas passagens pela polícia, conhecidíssimo no mundo do crime. Por que é que ele tinha que escolher logo a governadora que tinha acabado de ser eleita? Tinha alguém por trás. Então, o Ministério Público e o STJ entenderam que ela tinha razão. Quer dizer: o processo virou. Ela passou de ré a vítima. Mas, a notícia de que ela passou de ré a vítima, ocupou canto de página. No entanto, a acusação foi manchete. A inocência comprovada dela foi um canto de página. Teve uma campanha publicitária autorizada por mim, em 2006, que foi acusada de ser eleitoreira. Eu entrei no processo, acusado pelo Ministério Público, juntamente com a governadora, a agência que criou, e mais os funcionários de terceiro, quarto, quinto escalão – todo mundo. Quem pegou no processo que tinha alguma assinatura foi denunciado e o Ministério Público pediu a devolução de 6 milhões de reais. Capa. Eu a governadora e as fotos dos cinco principais personagens do processo, na capa. Isso era uma denúncia, uma acusação; não era ainda uma sentença. Eu ainda ia me defender... enquanto isso, o fato estava na rua: devolver 6 milhões, o que é que isso representa no imaginário das pessoas: Que eu roubei 6 milhões. Eu disse logo: Eu não tenho 6 milhões para devolver. Mesmo porque eu não peguei 6 milhões pra mim. O que eu fiz foi autorizar a divulgação de um jingle. Não deu um mês e meio e um juiz, em primeira instância, nos absolve a todos. Como foi que a notícia saiu? Nota de rodapé. Cantinho de página. Então com esses dois exemplos, a gente vê, de fato, o retrato de quem está do outro lado. Eu acho que todo jornalista, especialmente aquele que é mais investigativo, aquele que é mais impetuoso, ele deve um dia passar pelo outro lado, pra ele saber como é. Quem se acha bala tem que aprender a ser alvo também. Porque um dano causado por uma manchete dessa na imagem de uma pessoa, só quem sabe dimensionar é quem passa por isso. Um dia meu filho chegou no colégio com um tênis que eu tinha comprado e um colega perguntou se tinha sido dos 6 milhões. O garoto tinha escutado o pai, na casa dele, falar. Eu ainda imaginei procurar esse pai, mas eu digo: eu não vou perder a minha cabeça. Eu estava com a cabeça a mil...Quer dizer: Quem tem a responsabilidade de editar, tem que ter muita responsabilidade. Hoje, a imprensa acusa e julga. E geralmente julga por linchamento.
Palumbo - O fato de você ter passado pelos dois lados do balcão deixou você mais maduro para enfrentar esse tipo de coisa que você acabou de relatar ou mais inconformado com essas coisas?
Rubens Lemos - Me deixou mais decepcionado com a minha profissão. Muito mais decepcionado. Essa passagem foi muito importante pra mim sob o ponto de vista de reavaliação. Isso me transmite um certo sentimento de impotência na medida em que sinto não poder fazer nada para corrigir esse tipo de distorção. Tenho a convicção de que essa é uma prática que tende a piorar cada vez mais. Nós discutimos muita coisa, mas não se discute a ética. Você não discute a ética. Por exemplo: Eu sou suspeito pra falar porque eu sou um jornalista que não tenho diploma. Mas, acho que deve haver diploma. Embora o diploma não seja certidão de talento. De competência. Agora, da mesma maneira que se cobra o diploma, que se faça também uma cruzada pra banir do jornalismo os picaretas. Vamos banir os picaretas da imprensa. O cara que faz um blog pra ele, muitas vezes apócrifo, só pra achincalhar a honra das pessoas, ele mesmo escreve e publica os comentários e não acontece nada. Isso pode? Isso é mais indecente ou não do que não ter o diploma? Eu não tenho diploma. Mas, você acha que as pessoas que me empregaram ao longo de 23 anos de profissão, elas iriam me empregar se eu fosse incompetente ou amoral?
Palumbo - Você que defende o diploma, por que você não buscou a Faculdade?
Rubens Lemos - Não busquei a Faculdade por uma questão de sobrevivência. Eu não tive condição. Eu queria ter feito jornalismo. Mas, como eu comecei muito cedo, eu comecei a ter responsabilidade muito cedo. Eu comecei a ser jornalista adolescente. Eu pulei de menino pra adulto. Eu não tive adolescência. Na fase em que eu devia estar nas boates ou brincando, namorando ou fazendo o que um jovem normal faz, eu estava numa redação. Casei muito cedo. Tive que ter mais de um emprego. Eu trabalhava de manhã, de tarde e de noite. Teve um período da minha vida que eu chegava na TV Potengi, na Bandeirantes, às quatro e meia da manhã. Depois na TV Cabugi, também as quatro e meia da manhã. Ia pro jornal à tarde. Ou então, ia à tarde pra uma agência de propaganda ser redator e ia de noite pra editar o jornal. Quer dizer: eu não tive condição. Mas, meu filho vai fazer faculdade. Disso eu não abro mão de jeito nenhum. E pública. Privada, de jeito nenhum. Eu não tenho condição e ele está consciente disso. Universidade pública, federal.
Palumbo - Como é que você analisa esse jornalismo que está sendo feito através dos blogs?
Rubens Lemos - Eu acho que a instantaneidade é uma prerrogativa. O furo é uma busca inerente à condição do jornalista. O furo é a consagração. O gol do jornalista é o furo. Agora, é preciso fazer uma avaliação da qualidade de quem está fazendo essas notícias. O jornalismo é uma atividade intelectual. E sendo intelectual você passa às pessoas um produto para consumo. Então você tem que passar bem. Não adianta apenas você ter a percepção jornalística. Não. Eu vou morrer brigando pela tese de que jornalista que não sabe escrever, não serve. Porque se ele não sabe escrever, ele pega uma excelente notícia e transforma numa porcaria de notícia. Há excelentes blogs aqui: Thaisa Galvão, Laurita Arruda, Eliana Lima são ótimas.
Palumbo - Você acha que o público está ligando hoje em dia pra isso?
Rubens Lemnos - Eu trouxe pra cá, de propósito, a última pesquisa que eu mandei fazer sobre essa questão de mídia, essa questão de blogs. Pra vocês terem uma idéia de como a população pensa. Porque nessa função de comunicação, todos pensam que são comunicadores. Como não é uma ciência exata, como não é uma ciência da saúde, todo mundo se acha marqueteiro, comunicador, jornalista, redator, repórter, tudo. Veja bem: eu não estou falando de jornalista não. Eu estou de assecla de fonte. Aliás, os piores são os asseclas, os babões, os puxa-sacos, os agregados... Esses é que dão trabalho. Porque são desocupados. São dependentes dos políticos e os que são dependentes dos políticos, pra continuarem dependentes, eles precisam puxar o saco, porque senão, eles perdem a boquinha. Tem gente que vive da intriga... da fofoca...Uma vez, numa reunião do secretariado eu fiz essa colocação, e causou o maior rebu. Uma das primeiras. Sempre, sempre, sempre, a culpa era da comunicação. “Não porque a comunicação tá falhando... a comunicação tá falhando... a comunicação tá falhando...”Aí eu olhei pra o secretário de Saúde e disse: Eu vou fazer o seguinte: “Feche o seu consultório, reabra com o meu nome que eu vou dar a receita no seu lugar”. Porque eu nunca vi, estar um cardiologista realizando uma operação, chegar um jornalista, interrompê-lo e dizer: “Eu quero fazer”. Ou então, querer ensinar médico a fazer cirurgia, ensi¬nar piloto a manejar avião,ensinar engenheiro a fazer obra... Agora, todo mala quer ensinar jornalista a ser jornalista. Então, voltando: Na pesquisa que foi de dezembro pra janeiro, tem dados que são muito significativos. Aliás, foi com base nessa pesquisa que eu enfrentei a influência de alguns sem-futuro que vinham dar pitaco. Porque você não queira saber o que é, depois de um dia estressante, você receber uma ligação: “Olhe, fulano acha que...” E quem é fulano pra achar alguma coisa? Entendeu? No final do governo, um determinado secretário me ligou perguntando por que não tinha condição de botar um filme sobre evento tal. Eu disse: “Não tem porque hoje é sexta-feira, 20 horas, e o departamento comercial da televisão está fechado. Não tem condição de entrar. E a mídia que está no ar é a mídia institucional do governo. Do nosso governo. Você não está assistindo televisão não?”. Respondi assim. Não deu dois minutos a governadora me ligou: “Olhe, aquele evento... não dá pra gente substituir o filme?...” Eu cortei: “Dá não, governadora. Eu sei que foi fulano que ligou e eu acabei de explicar pra ele porque não dava”. Isso é entreguismo, é delação, é fofoca, não é procedimento de gente digna. São essas coisas que irritam...
Palumbo - Sob esse aspecto, como é a governadora?
Rubens Lemos - Ele tem muita sensibilidade. Ela ouve muito. Eu tinha até pena dela. O que ela ouviu, de besteira durante esses oito anos – de manhã, de tarde e de noite – gente entregando os outros, dando palpite errado... gente se metendo... Isso em todas as áreas, não apenas na minha. “A ponte Forte-Redinha tinha que ser para Ponta Negra... por que não pintaram o meio-fio de outro jeito e não iluminaram de verde... ou de azul... ou de preto... à noite?” Ficaria lindo de preto à noite (risos).. Era assim. Mas, ela não se deixava levar. Primeiro, porque ela tem uma percepção muito grande disso. E outra coisa: Ela era minha chefe. Uma ordem dela eu jamais descumpriria. Dela. Porque muitas vezes vinha alguém e falava: “A governadora disse...” Eu respondia: “Quando ela quer dizer, ela me diz. Não manda intermediário”.
Palumbo - E quando faltava a ela argumento pra lhe convencer, ela usava a autoridade?
Rubens Lemos - Autoritarismo ela nunca usou. Agora, ela já chegou e determinou. Eu gostaria que fosse feito isso, isso e isso... coisas pertinentes. Não é à toa que ele foi eleita duas vezes governadora e três vezes prefeita, não. Ela é inteligente, perspicaz e sabe comandar.
Palumbo - Voltando à pesquisa...
Rubens Lemos - Pra você ter uma idéia, 47.20% da população de Natal não lêem jornal. 64.13 não escutam rádio AM. A FM tem uma penetração de 67%. À pergunta “Você acessa a Internet? – Sim ou Não?”, em Natal, a resposta foi: 5.3% da população acessa a Internet. “Você acessa a Internet e lê blogs locais?” 90%, não. Isso em Natal. Agora, você imaginar que uma pessoa – por exemplo, meu sogro, que mora no interior do Encanto, lá no Alto Oeste, na tromba da tromba do elefante, ele vá querer saber o que tem no blog de A ou de B? Não vai não. Como é que o cara lê blog, se ele tá trabalhando num balcão de loja, de farmácia, o escambau? Ele sai de casa às 5 horas pra chegar às 7 no trabalho; vai almoçar do meio dia às duas e voltar às 6, ganhando um salário mínimo, como é que ele vai comprar um computador? Agora, realmente, a profusão de blogs é uma coisa impressionante. Eu era muito cobrado; se falava muito em twitter. “Barack Obama ganhou a eleição por causa do twitter”. Mas, isso nos Estados Unidos. Você vai querer comparar a realidade americana com a brasileira? Eu acesso o twitter, eu tenho twitter (depois de relutar muito, eu entrei). Sobre isso a pesquisa quis saber: “Você já ouvir falar em twitter?” Resposta: 95,25%, não. Em Natal. Você tem que raciocinar que Natal não é só o Plano Palumbo, nem até parte da Zona Oeste. Natal tem ilhas de acessibilidade. Mas, a grande maioria da população pouco se lixa pra isso. Essa parte da população quer sobreviver, quer comer. Agora, televisão meu amigo, se você for ver, é de 78% a liderança da TV Globo. E aí ficam dizendo que o Governo investe muito em televisão... E como é que a informação chega ao povo? Claro que é através da televisão. Aí me vem um cara com um blog ou uma rádio merda e aí diz assim: “Rapaz, eu preciso pagar meu carro, como é que eu faço? Eu quero que o Governo bote dinheiro aqui no meu blog ou na minha rádio pra que eu possa pagar o carro.” Eu perguntei: “Mas, você combinou com o governo antes de comprar o carro?” Aí eu saio do governo e o cara me esculacha. Claro... é assim. A verdade é essa. Eu defendo a quarentena. Quem ocupa um cargo desse, ele deve ter uma quarentena, como tem no Governo Federal. Porque você se desgasta, você se expõe muito.
Palumbo - Você está se impondo uma quarentena?
Rubens Lemos - Até onde eu puder agüentar... até onde puder segurar, sim. Eu estou numa absoluta quarentena. Estou dando essa entrevista com pouco mais de 20 dias depois de ter deixado a função, mas continuo com o mesmo cansaço, com o mesmo estresse e a irritação que estava quando desci a rampa com a governadora em 31 de março.
Palumbo - Você participou de duas administrações diferentes – a de Garibaldi e a de Wilma. Qual a diferença de estilo que você pôde perceber?
Rubens Lemos - Bem... eu trabalhei com o governador Garibaldi de 1995 até junho de 2001. Fui coordenador de imprensa. Deixei o governo ele governador por circunstâncias que já foram superadas. Voltei para a televisão e, em 2002, fui convidado por Alexandre Macedo, através de Adriano de Sousa, a me integrar na campanha da professora Wilma. Enfim: São dois políticos de extrema popularidade, mas totalmente diferentes no estilo, o que é normal. Você é diferente de mim. Garibaldi é um político que leva mais na cadência. Dona Wilma é mais voluntariosa. E ela, quando desafiada, ao invés dela ficar na concha é o contrário – ela cresce. Essa é a diferença. Eu não vou falar em coisas de que participei por exercer uma função de confiança. Testemunhei muitos momentos difíceis sobre os quais não vou falar porque acho que essa caixa preta é uma questão de honra de uma pessoa que merece a confiança de outra. Não que eu tenha participado de concha¬vos, conluios ou de indignidades, com Garibaldi ou Wilma, mas de momentos de tensão e tristeza inerentes a um governo.
Palumbo - No exercício do poder sempre há crises provocadas por excesso de vaidade de determinados personagens que fazem parte do núcleo do poder. Como isso batia na Comunicação?
Rubens Lemos - O que acontece é o seguinte: A governadora é uma pessoa extremamente rigorosa. Por exemplo: Uma vez que foi passar alguns dias em Pipa, saiu às duas da manhã pra rua ver se tinha polícia e acordou o comandante. Esse é o estilo dela. Então, imagine o que é que ela não cobra numa reunião com o secretariado. Ela pega uma relação de metas e pergunta: “Por que não está saindo isso”. – Ah, tá saindo... é porque não está sendo divulgado...É porque não tá na imprensa... mas tá aqui. No começo eu fui aceitando, mas depois mandava a produtora fazer a checagem. O cara chegava com um monte de papel – eu não vou dizer a área pra não ferir suscetibilidades de ex-colegas – e dizia: “Eu fiz isso, isso e isso”. Quando a equipe de filmagem chegava lá pensando em produzir uma grande peça, não encontrava absolutamente nada. Quer dizer o cara fazia a média, porque é muito fácil você culpar a comunicação. Agora, não foi por obra da comunicação, mas, nós deixamos o Governo com a governadora com 66% de aprovação, uma das melhores marcas do Brasil. Como é que o povo soube? Como é que o povo aprova uma governante? Não é com base na informação não? Não é sabendo o que acontece não?
Palumbo - O que é o governo? É dramático? Trágico? Ridículo? Rizível? Humorístico? É o quê?
Rubens Lemos - É tudo o que você disse. Bote num liquidificador... aí o que sai eu não sei o que é não. Mas, é tudo isso. O governo tem o cara equilibrado... o ponderado...tem o falso... tem o dissimulado...tem o que fala demais (que sou eu)... que era considerado que falava demais...já fui citado por isso... porque eu me “expunha” demais...botava a cara pra defender... falava quando muitos amigos do poder se calavam. Sofri desgaste por isso. O governo tem tudo.
Palumbo - Quais foram o melhor e o pior momentos do Governo Wilma nesses oito anos?
Rubens Lemos - Eu acho que o governo dela fui muito linear. Positivamente. O governo sempre esteve num patamar de obras muito elevado. Foi um governo que deixou muitas marcas. Eu acho que a conclusão da ponte – ver os carros em cima da ponte foi, realmente, uma grande felicidade. Foi um grande marco pra Natal. Aliás, Natal tem uma coisa que é diferente de Mossoró – eu invejo Mossoró pela auto-estima dela. Você não brigue com Mossoró. Não tente mexer com Mossoró não, que vem meio mundo pra cima de você. O mossoroense é bairrista. Ele ama e está sempre pronto a defender sua cidade. O natalense é difícil. Natal é muito boa pra quem vem de fora. Natal é excelente receptiva; mas, é muito pouco solidária com os seus. Então, a ponte, muita gente apostava que não ia ter. Fizeram passeata: “Eu quero minha ponte”.
Palumbo - Trabalharam contra a ponte?
Rubens Lemos - Trabalharam. Acho que sim. Quanto ao pior momento... Eu volto àquela questão da confiabilidade. Eu não posso falar não. Sobre isso eu não falo.
Palumbo - Garibaldi iniciou o programa das adutoras no Rio Grande do Norte e ainda hoje é conhecido como o governador das adutoras. A governadora Wilma de Faria também fez muitas adutoras e, pelos números do governo, até bem mais do que Garibaldi. Por que ela não é a “governadora das águas”?
Rubens Lemos - Porque Garibaldi foi governador primeiro do que ela. Ela veio depois. O Governo de Garibaldi foi antes. Nós não iríamos repetir um conceito já usado. É tanto que “Governo de Todos” é um conceito. Ele é de todos no sentido de abranger toda população, todos os setores. Aliás, foi. O governo de Wilma acabou. Toda sua ação, todo seu estilo, toda sua essência...
Palumbo - Iberê não vai dar continuidade?
Rubens Lemos - Não disse nada disso. Eu estou dizendo que o Governo Wilma acabou. Então, o governo Wilma foi múltiplo. O governo implantou milhares de quilômetros de estradas... o governo levou energia elétrica para os locais mais distantes, diminuiu a mortalidade infantil, aumentou o índice de emprego. Foi um governo social. E o que é um governo social? É você fazer saneamento...é você colocar gente no mercado de trabalho... e foi um governo que, na infraestrutura, foi considerado o estado com maior potencial de desenvolvimento da região nordestina, num recente estudo publicado pela revista Exame. Investiu em energia (como a energia eólica). É, então, um governo que tem múltiplas marcas. A governadora Wilma terminou o governo muitíssimo bem avaliada. Sessenta e seis por cento no final de um governo é um índice altamente expressivo. Eu considero expressivo. Ela como é muito exigente, acho que talvez quisesse 99%, mas isso nem Jesus Cristo conseguiu.
Palumbo - Vamos falar um pouco do Rubinho esportista. Você é mais ABC ou mais Vasco da Gama?
Rubens Lemos - Eu sou ABC. O Vasco é o meu segundo time. Eu tenho três times na vida – O ABC é o primeiríssimo, o Vasco e tem o Rio Ave que é o meu time (de futebol soçaite) que é o campeão do Norte-Nordeste.
Palumbo - Esse nome de Rio Ave foi uma homenagem a Baíca?
Rubens Lemos - Não. O time é de muito antes de Baíca ter começado a jogar. Nós começamos esse time em 1985. Mamãe mora até hoje na rua Ezequias Pegado, perto da Escola Doméstica, junto do posto Miguel Barra. E havia um campeonato perto da antiga residência oficial dos governadores. Então, tinha uma quadra muito boa - quadrinha de futebol de salão – só com trave “mirim”. Não tinha goleiro. Jogavam quatro caras na linha. Eu nunca fui jogador. Sempre gostei de futebol, sempre fui viciado, mas não sabia jogar. Essa é uma coisa que tenho como mantra na minha vida. Aquilo que você não sabe fazer, não se meta a fazer. Porque você vai fazer errado. Eu não me meto a fazer...o que não sei fazer. Não sei andar de bicicleta ou dirigir carro, por exemplo...
Palumbo - Mas, só um detalhe. Você não sabia, mas jogava...
Rubens Lemos - Não... batia pelada na rua. Aí é outra coisa... eu jogava na rua. Mas, por exemplo: um campeonato, eu não me arriscava porque podia perder...Bom... eu inscrevi o time num campeonato lá na quadra perto da casa do governador, mas o time não tinha camisa. Um dos jogadores – chamava-se Patinho que me disse: “Eu tenho um jogo de camisa azul e branco que me deram, do Rio Ave, de Portugal”... E o time ficou sendo Rio Ave. Ficou Rio Ave em 85, 86 e 87. Nós ganhamos quase todos os campeonatos mirins lá. E parou. Quando foi agora (agora não, há 10 anos) em 1999, eu voltei. Mas, voltei com as cores alvinegras.
Palumbo - Quer dizer: Você conheceu o Rio Ave antes de conhecer Baíca...
Rubens Lemos - Exatamente. Baíca foi depois. Bem depois.
Palumbo - Explique aí essa ligação de Baíca com o Rio Ave?
Rubens Lemos - Baíca foi um jogador daqui que atuou no Rio Ave. Baíca era um artilheiro que jogou aqui em Natal – no Alecrim, no América, foi campeão pelo América e, do América, foi para o Rio Ave de Portugal. Jogou muitos anos lá e foi artilheiro lá também. Então, voltando ao ABC. O ABC pra mim é muito mais do que um time de futebol. É muito mais do que uma paixão futebolística. Foi uma âncora que tive na minha infância. Foi uma infância de muita dificuldade... e o ABC nunca me cobrou nada pra eu gostar dele. É uma relação de amor infinito.
Palumbo - Esquerdinha, foi uma das grandes descobertas suas no jornalismo, com uma reportagem na PALUMBO, foi uma das grandes descobertas da sua vida de jornalista?
Rubens Lemos - Pra mim foi uma das coisas mais reanimadoras que eu fiz. Talvez tenha sido o fato mais importante, mais positivo pra mim, como profissional, nos últimos cinco anos, foi aquela matéria. Talvez as pessoas não tenham noção. Mas, aquela matéria surgiu num momento em que eu estava sob uma pressão terrível. Estava profundamente agastado, desgastado... no final já do governo.. um final difícil...e surgiu o nome de Esquerdinha por um acaso, assim... Eu sempre ouvia falar de Esquerdinha através de um primo meu. Eu não vi Esquerdinha jogar. Esquerdinha jogou aqui antes de eu nascer. Esse meu primo é Luís Alberto Marinho, que é infectologista, e que era fã do cara, imitava ele... E um dia eu vi um jornal, num blog...um jornalista perguntar – é por isso que eu digo, tem que ter qualidade no jornalismo; não basta ser jornalista – O cara botou: “Quem souber notícia de Esquerdinha, me avise”. Eu fiquei indignado, pois entendo que o repórter é quem tem que dar a informação... o repórter não nasceu pra questionar o leitor – quem souber de alguma coisa aí, por favor, me dê uma notícia... Aí as pessoas falavam que Esquerdinha morreu ... Esquerdinha está em Recife... Esquerdinha tá não sei aonde... E eu fui procurar. Usei instrumentos de buscas, localizei amigos em São Paulo e dei uma sorte porque eu descobri a ficha dele. Eu fui cascaviar arquivo e peguei o sobrenome dele. E pelo sobrenome você vai no computador e acha. Depércia é sobrenome dele. E encontrei o filho dele. Eu vim saber, depois que era filho dele. Falando: “Ah, meu pai foi jogador de futebol, fazia suas próprias roupas...desenhava e tal ... era um cara polêmico... o nome dele era Esquerdinha...da época de Pelé”. Foi a frase dele. Aí, eu me mexi. Fui atrás de catálogo, do 102...fiz o que o repórter deve fazer. Mas, o fato de ter feito o texto e ter me reencontrado com a reportagem, mostrou que não estava morto, sabe? Como algumas pessoas talvez pensassem.
Palumbo - E aí a entrevista de Esquerdinha acabou le¬vando ao perfil com o Xiquinho’s que era um personagem da cidade que andava sumido e esquecido...
Rubens Lemos - E Xiquinho’s disse a mim e está posto lá que Esquerdinha foi o grande responsável pelo sucesso dele. E eu fiquei devendo e ainda estou devendo outra visita a Esquerdinha ... Ele é uma figura que só vendo. Eu não o vi jogar. Eu peguei o ABC já na “Era Castelão”. E ele foi da “Era Juvenal Lamartine”.
Palumbo - Quer dizer: Ele jogou no ABC um ano antes de você nascer.
Rubens Lemos - Ele jogou no ABC de abril a novembro de 1969 e eu nasci em agosto de 1970. O ano que eu nasci deu sorte. O ABC foi campeão. E foi também o único ano que Marinho Chagas jogou no ABC.
Palumbo - E a sua paixão pelo futebol de salão?
Rubens Lemos - Claro que é um subproduto do futebol. Mas, o futsal também me encantava. Natal na época em que comecei a freqüentar o futsal, em 1980, eu saía a pé dali onde morávamos e ia a pé para o Palácio dos Esportes, à noite, e voltava na maior tranqüilidade. Jogava ABC e Galux, que era um time que tinha aqui, com o nome de uma loja... Eu ia a todos os jogos e comecei a me apaixonar mesmo. Havia jogos no Palácio dos Esportes, com tanta gente, que as pessoas ficavam penduradas, de tão lotado que o Ginásio ficava. Dennis o craque do ABC, Sílvio, o do América. Quando eu comecei com o Rio Ave a disputar competições, alguns jogadores de futsal foram jogar comigo. O ABC estava parado no futsal. Só dava América – pá... pa... pá... Eu ficava perguntando: Por que é que o ABC não volta? E a resposta era que a diretoria do ABC não tinha interesse. Então, um dia, num jogo, eu encontrei com Glauber Gentil que é filho de Antônio Gentil, um grande abecedista e grande amigo. Era uma pessoa muito amiga do meu pai. Eu disse: “Glauber, rapaz, arranja um patrocínio para o ABC voltar com o futsal?”. Ele se interessou, falou com Arturo Arruda que um belo dia me liga perguntando se estou mesmo nesse projeto. Diante da minha resposta positiva, ele disse: “Pode contar com a gente”. E nós entramos. Em 2005 já entramos ganhando a Taça Brasil. Formamos um bom time. Bom e barato. Pois, na realidade, o que se paga é uma miséria. Aquela ilusão de profissionalismo... tinha jogador que ganhava 200 reais. A gente pagava 500. E tinha gente que dizia: “Rubinho usou o governo para gastar no futebol de salão”. Não. Ao contrário: Eu estou pendurado nos empréstimos que fiz. Mas, não me arrependo. Se você me perguntar – Você se arrepende? Nem um pouquinho. Taí meu imposto de renda. Pode abrir. Mas, não me arrependo. Meu lazer, minha alegria são feitos de coisas assim. Eu sou uma pessoa que não gosta de sair... Eu não gosto de festa, não gosto de farra, não gosto de grupinho... de patota... Eu não gosto. Eu gosto de futebol, cinema, literatura, ter bons (e poucos) amigos pra conversar. Não gosto de confraria não. Quem gosta de aparecer que goste, eu não gosto, sou anti-social, ou anti-artificial.
Palumbo - Pra terminar: Qual é a grande paixão de sua vida? A primeira, a principal, aquela que deixa a segunda lá atrás.
Rubens Lemos - Não. Não tem segunda, não. A minha maior paixão é a minha família, a minha mulher e meus filhos. Isso aí não tenha dúvida. Isso aí pode parecer piegas e convencional, mas devo tudo à minha mulher e aos meus filhos. Houve um tempo em que eu achava que a família não fosse importante, mas, num momento em que me separei dela – uma besteira que fiz na minha vida, foi que eu percebi o quanto ela é importante. Se o cara não estiver bem em casa, ele não consegue fazer nada. Se você não tiver uma base familiar lhe apoiando, tudo fica mais difícil. Talvez por isso eu tenha rodado tanto na vida, minha infância foi uma ciranda de instabilidade, pai procurado pela Ditadura, pai torturado, eu sem saber se o meu pai tava vivo. E hoje em dia, meu amigo, pra você conseguir uma pessoa boa pra conviver, é muito complicado. Eu vejo por aí. O mundo hoje é só interesse, finanças, glamour... E nada disso combina comigo. Por isso que eu acertei em cheio. A minha família combina comigo.
Do Blog: Vou só dar um pitaco aqui no ponto da entrevista onde Rubinho fala sobre a leitura de blogs no interior. Ela pode ter aparecido como insignificante na pesquisa onde a pergunta deve ter sido: "Você acessa internet? Lê blogs?". Aí, sim, até concordo. Mas hoje, em toda cidade do interior existe uma emissora de rádio, e as rádios batem, em muitos pontos, a televisão. E o noticiário do rádio, no interior, vem sendo alimentado, muitas vezes com o devido crédito, pelos blogs. Porque jornal impresso, como a gente sabe, chega pingado ao interior. Tem cidades que recebem 3 ou 4 exemplares. Então a notícia do blog hoje é sim, a que chega com mais rapidez ao interior. Ganha da televisão porque chega através do rádio. A TV ainda nem chega a alguns cantinhos mais carentes do nosso Estado. O rádio chega. E levando o blog junto.