31/05/2010
Iberê Ferreira e o PMDB que cabia dentro de um Fusca
[0] Comentários | Deixe seu comentário.O governador Iberê Ferreira de Souza, que por causa de problemas na aeronave que o traria a Natal, não participou da festa de 40 anos de vida pública do senador Garibaldi Filho e do deputado Henrique Alves, fez uma homenagem aos dois.
Escreveu um artigo que foi publicado neste domingo, na Tribuna do Norte...
Iberê, assim como Henrique e Garibaldi, chegou aos 40 anos de vida pública.
E é isso que ele conta no artigo, onde também explica a verdadeira história do PMDB que cabia dentro de um Fusca.
O SONHO QUE NASCEU EM UM FUSCA
Iberê Ferreira de Souza
Governador
Corria o mês de julho de 1969 e estávamos, eu e Henrique, no Rio de Janeiro. O prazo para filiação partidária estava prestes a se esgotar. Numa corrida contra o tempo, entramos num Fusca e partimos do Rio para Natal. Chegamos à capital potiguar. As horas finais para a criação prática do MDB se escoavam quando adentramos o escritório de Roberto Furtado, no Centro da cidade, e nos filiamos ao partido. Estava pronto o MDB. Pronto para lutar, resistir, crescer e vencer.
Aquele dia era 20 de julho de 1969, quando o Homem chegava à Lua. O astronauta Neil Armstrong disse que aquele fora um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade. Aqui, no Rio Grande do Norte, nós também dávamos o grande salto para o futuro. Éramos poucos: Garibaldi, Henrique, Roberto Furtado, Magnus Kelly, Antonio Câmara, Asclepíades e eu. Saíamos de um pequeno Fusca para a vastidão do território político, para desbravar as fronteiras do sonho da democracia. Era o ideal dos que batalham e seguem em frente sem temor ou subserviência.
Depois, criado formalmente o MDB, cada um partiu para os mais distantes pontos do Estado, formando diretórios, convocando lideranças, chamando para a luta. Garibaldi e Henrique, filhos de líderes incontestes do nosso RN, eram as bandeiras vivas que se opunham a tão lamentável quadra da nossa história. É honroso ter lutado ao lado deles.
Episódio inesquecível foi a vinda do Dr. Ulysses Guimarães ao Estado, ao lado do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, então candidatos à presidência e vice da República. Naquela época, era a candidatura que representava os anseios do povo, já muito cansado do peso da bota que o oprimia.
Chegando a Natal, Dr. Ulysses foi impedido de fazer comício pelas forças de segurança. O ato arbitrário, contudo, nos instilou ânimo e forças. Como nos versos do Hino da República, nós repetíamos sem temor: liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. E foi essa liberdade, esse arrojo, que nos deu a substância e a essência da coragem, forjou o nosso ardor e as nossas convicções. O comício proibido, serviu como uma grande motivação para os embates vitoriosos que vieram. E, neste instante, posso afirmar: naquele pequeno Fusca não cabia apenas o MDB do Rio Grande do Norte. Ali, estavam se formando grandes lideranças. No Fusca, cabiam a liberdade e todas as suas luzes, os clarões que viriam a nascer no horizonte da democracia.
Sinto a mesma alegria daquela época, porque pulsa em mim o júbilo de também cumprir 40 anos de vida pública, marcada por grandes momentos. Chegar a este patamar, em plena atuação, é uma vitória que poucos conseguem alcançar. Sinto-me honrado em saber que faço parte dessa história. Com os dois amigos, Garibaldi e Henrique, mantenho vínculos antigos e históricos, uma amizade duradoura, forjada na luta, cuja têmpera desafia o tempo e as suas circunstâncias. Hoje, estou ao lado de Henrique seguindo o mesmo caminho. Entre nós, não há um acordo de ocasião, mas a vivência de um ideal. Sigamos, pois, e como nos tempos do velho MDB, vamos chegar a tempo de dar ao Rio Grande do Norte a oportunidade de seguir no caminho certo. Escolhemos a vida pública por vontade e vocação. Agora, somos convocados a uma nova luta e dela não fugiremos. Vamos dar ao nosso Estado um tempo novo. Vamos escrever, ao lado do povo, novos capítulos da história real de um sonho.