17/02/2010
Filho lembra da partida do pai, barbeiro Antônio Guedes, no carnaval passado
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Não sobraria espaço para as notícias curtas e comuns a que os leitores estão acostumados.
Mas de vez em quando abre uma exceção.
Como faz agora com o leitor Marcus Guedes, filho mais velho de “Guedes”, o eterno stylist – para não chamar de barbeiro - de políticos potiguares.
Que morreu no carnaval passado, e que o filho homenageia hoje.
Eis:
UM ANO SEM TOINHO GUEDES
Por Marcus Guedes
Um ano sem Toinho Guedes!!
Papai carimbou o seu passaporte da Grande Viagem em plena segunda-feira de carnaval, 23 de fevereiro de 2009, três dias após completar os seus 84 anos de vida.
Estive com ele até meia hora antes de um infarto fulminante dar-lhe a passagem que sempre sonhou, sem dor, dormindo. Márcia, minha irmã, e seus filhos Roberto e Roberta o assistiram nesse último momento.
Posso afirmar, com convicção, que sou um homem feliz: levei o meu pai à sua última morada. É assim que é a vida: os que vêm primeiro, vão primeiro. Espero que a minha filha Camila cumpra esse ritual comigo, nunca o contrário. Papai e mamãe tiveram de levar o meu irmão caçula, Marcus Alexandre, ao Campo Santo. Nunca mais foram “gente” na vida!!
A mais distante lembrança que tenho do "véio" Toinho me leva às sestas que ele tirava quando ainda morávamos na Rua Cel. José Bernardes, ali no Baldo. Após o almoço, sempre munido de uma revista em quadrinhos de Walt Disney (Pato Donald, na maioria das vezes), ele sempre lia a história da revista e pedia para eu gravar e, posteriormente, ler a mesma história prá ele. Daí veio o amor que tenho pelos livros. E também a cobrança que ele sempre me fez, como filho mais velho, para estudar e ser exemplo para meus irmãos.
Papai sempre me quis ver “doutor”!!! O sonho dele era que eu viesse a ser advogado. Frustrei-lhe demais. Até o final da vida me cobrava tão acalentado título de bacharel. Me formei em Economia, na turma de 1978 da UFRN. Fui o primeiro orador oficial da solenidade única de colação de grau saído do curso de Economia. Papai e mamãe estavam na platéia, os únicos que vi durante o meu discurso. Deixe de ir ao famoso jantar na Escola Doméstica, como representante dos formandos, que contou com a presença do então Ministro da Educação, Dr. Euro Brandão, para comer um bolo e tomar o meu primeiro copo de cerveja na companhia do "véio" Toinho, nos meus até então 22 anos de vida.
Meu pai foi, antes de tudo, meu amigo, conselheiro, orientador, cobrador de ações e irmão maçon (foi ele que me levou a conhecer a Verdade, na magistral oficina da Hegésippo Reis de Andrade).
Senti a falta da homenagem que a Maçonaria lhe deveu – uma bela e memorável Pompa Fúnebre. A Ordem não foi honesta com o meu velho! Não a Ordem, me corrijo, mas os homens que a conduzem.
Toinho Guedes foi um Homem de Bem!! Igual a muitos outros Homens de Bem que lhe dedicaram a mais profunda amizade, a exemplo do Governador Dinarte Mariz (que salvou a vida da minha avó, a velha Rita Guedes, portadora de um câncer de útero nos finais dos anos cinqüenta), Aluísio Alves (padrinho de casamento do meu pai), governador Lavoisier Maia, amigo de mais de 60 anos, Ernani Alves da Silveira (que ainda hoje visita, a cada sábado, a oficina de trabalho comandada, hoje, pelo meu querido irmão Beto Guedes, legítimo sucessor do "véio" Toinho), Senadores Fernando Bezerra, Garibaldi Alves Filho, José Agripino Maia e muitas outras personalidades da nossa vida política e social.
Nas muitas tardes de sábados e domingos que passeio com a minha querida mãe, Dona Socorro, conversamos sobre Antonio Guedes. Papai foi o seu primeiro e único amor. Dez anos de namoro e noivado e mais 55 de vida em comum. Uma vida. Uma vida de dedicação: nunca nos faltaram o pão, o feijão, o amor e o carinho paternal. Meu pai hoje faz,ainda, uma tremenda falta na condição de pai, de orientador.
Faz falta o seu “absolutamente”, termo que usava quando reclamava de algo que não o assistia, quando teve o AVC que o acometeu em 07.07.2008.
Antonio Guedes Fonseca é o meu Herói. Estou com ele todos os dias (para mim, ele apenas carimbou o seu passaporte da Grande Viagem e está por aí, no Nepal, Katmandu ou Paris, talvez, usufruindo as belezas da vida que construiu). Estou à espera do seu telefonema, me chamando para próximo de si (sou o filho mais velho e, segundo a regra, os que vêm primeiro vão primeiro).
Meu pai ocupa hoje, com certeza, uma importante cadeira no Oriente Eterno. Ele fez jus a ela. Como bom estudioso, extremado e virtuoso praticante da Arte Real, digno detentor da mais elevada insígnia da Suprema Ordem – o Grau 33 – Toinho Guedes, um simples barbeiro, o homem que deu aos seus filhos a verdadeira dignidade de cidadãos, descansa em Paz.
Como bem disse o meu querido irmão Heraldo Palmeira, “fica a lembrança da sua extrema elegância, ouvido treinado a receber informações importantes dadas em confiança, e por isso mesmo sem qualquer ligação com a língua”.
Sinto saudades do meu pai. Sou extremamente feliz por ser seu filho. Honra-me carregar o seu nome.
Antonio Guedes Fonseca – Toinho Barbeiro – é o meu Herói!!
Continuo a amá-lo, hoje e sempre.