30/06/2009
De pai para filha: Cassiano Arruda fala a Laurita sobre "Hotel de Trânsito"
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Será amanhã à noite, na Siciliano do Midway, o lançamento de “Hotel de Trânsito”, livro do jornalista Cassiano Arruda Câmara, que conta os mistérios da ditadura militar, quando ele foi uma das muitas vítimas.
E o Blog recorre ao blog de Laurita Arruda na Tribuna do Norte.
Filha do jornalista-autor, Laurita publicou a entrevista que, com certeza, jamais deixaria faltar uma pergunta.
Pois, mais completa impossível, é ela que eu reproduzo aqui.
Para que o leitor entenda um pouco do que é “Hotel de Trânsito”.
Território Livre - Por que Hotel de Trânsito?
Cassiano Arruda Câmara - Já pensou em Memórias do cárcere? Era demais. Hotel de Trânsito dos Oficiais da Base Aérea foi onde me prenderam. Além de permitir outras leituras. Personagem secundário de um fato histórico uso a minha própria história como fio condutor para tentar mostrar a Natal de 1969; a política do RN em 1969 e o jeito de se fazer jornal há 40 anos.
TL - O livro surgiu a partir de?
Cassiano - Pensei em marcar os 40 anos do episódio com uma plaquete reunindo cartas trocadas na época. Adriano de Souza achou que esta era uma oportunidade de deixar um documento dessa época. Não estava pensando nisso até ser demitido do Diário de Natal. Com disponibilidade de tempo e uma disciplina de produzir, pelo menos, cinco laudas por dia. Usei esse potencial para contar uma história de violência contra a população de uma pequena cidade e a visão desse drama, do ponto de vista de um noivo que vai descobrindo outros valores no seu próprio isolamento. Uma transição de valores e objetivos naquele hotel de trânsito. TL - O fato gerador da prisão não foi provocado por atitude sua, a função de editor resultou na responsabilização. Durante os dias de prisão chegou a questionar a viagem ao mundo do jornalismo?
Cassiano - Quando não se respeita a força da lei, entramos na lei da força. Se não fosse o jornalismo seria qualquer outra atividade.
TL - Quantos dias para colocar uma história de 40 anos no papel?
Cassiano - Os necessários. Esperava lançar o livro nos 40 anos da prisão (16 de maio). Ficou para o dia da libertação (4 de julho). Mas, por questão de agenda será no dia primeiro.
TL - O livro traz cartas entre noivos apaixonados, fale um pouco sobre isso.
Cassiano - Antes do e-mail era assim mesmo. As cartas estarão no livro. Da noiva, da mãe, dos colegas. É o melhor retrato da época.
TL - Medo, tortura e ameaças tiveram lugar nesse Hotel?
Cassiano - Medos, no plural.
TL - A curiosidade em torno dos anos de chumbo é presente até hoje; um paradoxo entre dor e um certo glamour. O personagem da história se via como presidiário ou hóspede passageiro?
Cassiano - Como um cara privado da sua liberdade. Uma situação que merece reflexões…
TL - O pior da falta de liberdade?
Cassiano - Exatamente a perda da liberdade, um direito fundamental.
TL - Marcas que ficaram, além da história.
Cassiano - As amargas colocadas no lixo. Busquei o lado bom de uma situação absurda, e acho que encontrei.
TL - A expectativa de escritor estará satisfeita se…
Cassiano - A nova geração conhecer uma cidade de 220 mil habitantes submetida ao arbítrio para entender essa Natal que se aproxima de um milhão de exemplares.
TL- Depois do segundo livro, algo lhe move/seduz para um terceiro projeto?
Cassiano - Não me acho em condições de escrever escritor na ficha do hotel. Termino continuando a colocar jornalista mesmo.