15/06/2009
Rubens Lemos lança hoje "O Homem Óbvio"
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Será hoje, a partir das 18 horas, no Teatro de Cultura Popular (Fundação José Augusto), o lançamento de “O Homem Óbvio”, livro do jornalista Rubens Lemos Filho, secretário de Comunicação do governo do Estado.
Rubinho juntou suas belas crônicas, já publicadas ou não, em um livro que autografa hoje.
O Blog repete a entrevista feita no dia 17 de maio, e adianta um dos textos do livro:
Thaisa Galvão - O que é o livro "O Homem Óbvio".
Rubens Lemos - Uma coletânea de escritos sem presunção, de um homem absolutamente comum e sua visão sobre o universo humano. Nada além de textos sobre o cotidiano.
Thaisa - Essas crônicas são inspiradas em fatos, ou você viaja pelo universo da ficção?
Rubinho - A crônica é um estilo em que prevalecem o sentimento e a emoção. Tudo é baseado em minhas concepções sobre a vida, minhas angústias, minha maneira de entender o mundo e as pessoas. Toda ficção tem um fundo de verdade. Não da verdade absoluta, mas da verdade que eu penso que seja.
Thaisa - As crônicas do livro já foram publicadas? Tem alguma inédita?
Rubinho - É uma coletânea de textos publicados ao longo de minha trajetória na imprensa, que completou 21 anos em abril.
Thaisa - Qual delas lhe deu mais satisfação em ler depois de escrita?
Rubinho - O que mais me satisfaz é poder escrever. É algo como uma missão que acho que devo cumprir, sem a preocupação de agradar.
Gosto muito das que falam sobre o tempo, a paciência (virtude que não tenho), sobre Natal, a cidade que eu amo, das saudades que tenho. Meu texto é absolutamente provinciano e eu tenho consciência disso.
CONTEMPLAÇÃO - 18.10.2007
Restava ao homem ao cair da tarde, o vento sudoeste e a superioridade incomum. Do seu copo de chope, vislumbrava um painel da vastidão humana num espaço de 100 metros no bar que, de tão cedo inaugurado, moda virou na província. Sem querer, ele caíra numa mesa estratégica. Pelos seus olhos, protegidos por um par de óculos escuros, que lhe davam uma expressão noir de Bogart, faltando-lhe apenas o chapéu e o sobretudo, passavam tipos de todos os tipos, somente uma cena lhe dava prazer e uma inveja infinita.
Quatro ou cinco mesas à sua frente, de costas, um belo casal. E pôs-se o homem a contemplá-lo. Sorvia sua bebida bem devagar, observando cada detalhe dos dois que pareciam licenciados da existência, resumida a cada gesto de carinho trocado entre ambos. A moça, de cabelos longos e lisos, óculos escuros, fazia cafuné no homem que, por mais dura que fosse a sua expressão, enternecia-se ou quase se contorcia numa entrega absoluta. O que o homem à espr eita não entendia era a nenhuma sinalização de obscenidade ou sexo. O que havia entre os dois era ternura e cumplicidade. Um estava ao lado do outro e ambos estavam felizes, caísse ou não Renan Calheiros, a Tropa de Elite matasse 200 traficantes e indignasse a sociologia , a CPMF passasse ou não.
Os dois só queriam saber de uma coisa: deles mesmos. E o homem no seu terceiro copo de chopp já nem viu passar personagens bons e maus de sua cidade. Concentrava-se inteiramente naquela prova de que a paixão é o ato que transporta os seres humanos para o lago das loucuras, o canteiro das aberrações, o sarau das frases perdidas, a parede das pinturas com enigmas indevassáveis, o longe dos longes onde não existe o limite para coisa alguma.
Tocava um chorinho e o homem contemplativo animou-se ao quarto chope, pedindo ao garçom que não demorasse. Ficou mais satisfeito e arriscou um quibe com uma coxinha de galinha gigante, das que valem por um ped aço de rabada. Queria ver mais daquilo que ele jamais tivera. O rapaz passa a mão sobre os cabelos ondulados da moça, móveis feito águas mornas de um mar que só pode existir na terra do homem encantado. E a beija, não na boca, para jamais banalizar o gesto , mas na testa. Um toque leve, do amor transbordante. Nunca o homem contemplativo tivera aquilo, recebera algo parecido. Pagou a conta. Seu estado de espírito era outro. Podia enfrentar a noite, quando sua missão nada teria de romantismo.