22/04/2009
Para professor do curso de Farmácia da UFRN, desperdício de remédios "é criminoso"
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Em entrevista à repórter Jussara Correia, do Diário de Natal, o professor do curso de Farmácia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Jairo Sotero Nogueira de Souza, falou sobre o escândalo dos medicamentos vencidos...
E chamou atenção para o perigo que é consumir um medicamento alterado pela falta de condições de acondicionamento.
Eis a entrevista:
Diário de Natal - Quais as alterações que um remédio que ficou mal acondicionado ou com prazo de validade vencido sofre?
Jairo Sotero - Em primeiro lugar, a determinação do prazo de validade é feito em laboratório, através de ensaios para que sejam definidas as condições adequadas de armazenamento. Na medida em que não garantem essas condições, esse remédio está sofrendo uma injúria, e não é mais possível garantir essa segurança. O pior é que, às vezes, as mudanças que o remédio sofre não podem ser visualizadas a olho nu, somente com microscópio. Então, o paciente pode consumir um medicamento achando que ele está em perfeitas condições. E na verdade ele já não tem mais a eficácia necessária, vai perdendo a atividade. Além disso esse remédio pode ser contaminado por microrganismos e perde a estabilidade físico-química.
Diário - Que problemas um paciente pode ter se consumir esses medicamentos alterados? Pode levar à morte?
Jairo - Com certeza. O surgimento de substâncias tóxicas pode levar uma pessoa a ter diversos problemas de saúde, uns mais graves e outros não. Pode desencadear uma alergia e até levar à morte. Eu vi, através da imprensa, imagens de soros que estavam com fungos dentro do recipiente. Já pensou se isso for jogado na veia de alguém? Vai levar uma bactéria para o organismo da pessoa e isso pode gerar problemas sérios.
Diário - Como os pacientes podem se prevenir diante dessa situação?
Jairo - Primeiro, é preciso avaliar o prazo de validade do medicamento. Se for a uma Unidade de Saúde, é importante ver a maneira como os remédios estão acondicionados. A Secretaria Municipal de Saúde tomou uma iniciativa louvável, pois está desenvolvendo um Plano de Assistência Farmacêutica, junto com os professores da UFRN. A intenção é avaliar toda a parte de logística, seleção, aquisição, armazenamento, planejamento, programação e distribuição dos medicamentos. Isso vai garantir eficácia. O grande problema de hoje é que falta o profissional farmacêutico nas Unidades de Saúde.
Diário - O que o senhor acha dessa situação de desperdício?
Jairo - Isso é criminoso. É uma total falta de sensibilidade por parte dos gestores. Essa iniciativa da Secretaria deve mudar essa situação. Pois se tivessem esse profissional fazendo esse controle, isso não teria acontecido. Isso foi um grande problema de logística. Tem medicamentos que foram adquiridos sem ter a quem dispensar. Alguém comprou de maneira inadequada e esses medicamentos estão fazendo falta em outra unidade. Não houve uma programação de aquisição.